Novembro

A vingança

O céu lhe caiu sobre os olhos

O mundo era um vislumbre distante e antigo

Seu corpo não era ele, mas um estranho

Sua boca esqueceu que falava

Sua mente por outro lado existia

E o atormentava com bobagens

Bobagens estas que o ameaçavam

Matéria mais fina que o ar

Ilusões do real eram mais reais que o real

Mas sobretudo seu sentimento o deixava

Pois não aguentava mais o baque

Todo dia é dia demais, lhe dizia

E queria fazer do dia uma noite

Mas a noite era solitária

E assim resolveu escrever

Mas a escrita era um espelho

E este espelho refletia o nada

Estava cansado

Sem esperança, dormiu esperando

Que no próximo dia, por um milagre

Tivesse esperança

Acordou com a luz do sol

Era verão e o calor o carregava

Sentiu ódio da vida

E este ódio se tornou sua esperança

Viveu não por amor, mas por vingança

Mantinha-se vivo por ultraje

Respiraria até o último ar de seus anos

Cuspiria até a última palavra de amor

Ergueria seu peito à última das dores

E no fim riria da morte com escárnio

A fazendo esperar até o último dia

Pois isso era tudo o que tinha

Tudo no que se agarrar

Sem cair no abismo sem fim

Foi fogueira no escuro

Iluminou si mesmo

Queimou, alimentando-se de si

Até que desapareceu

Sem deixar rastros para apodrecer

Pois em sua chama consumiu

Tudo o que havia para consumir

  • Autor: Novembro (Offline Offline)
  • Publicado: 18 de Janeiro de 2024 02:13
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 2


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