O céu lhe caiu sobre os olhos
O mundo era um vislumbre distante e antigo
Seu corpo não era ele, mas um estranho
Sua boca esqueceu que falava
Sua mente por outro lado existia
E o atormentava com bobagens
Bobagens estas que o ameaçavam
Matéria mais fina que o ar
Ilusões do real eram mais reais que o real
Mas sobretudo seu sentimento o deixava
Pois não aguentava mais o baque
Todo dia é dia demais, lhe dizia
E queria fazer do dia uma noite
Mas a noite era solitária
E assim resolveu escrever
Mas a escrita era um espelho
E este espelho refletia o nada
Estava cansado
Sem esperança, dormiu esperando
Que no próximo dia, por um milagre
Tivesse esperança
Acordou com a luz do sol
Era verão e o calor o carregava
Sentiu ódio da vida
E este ódio se tornou sua esperança
Viveu não por amor, mas por vingança
Mantinha-se vivo por ultraje
Respiraria até o último ar de seus anos
Cuspiria até a última palavra de amor
Ergueria seu peito à última das dores
E no fim riria da morte com escárnio
A fazendo esperar até o último dia
Pois isso era tudo o que tinha
Tudo no que se agarrar
Sem cair no abismo sem fim
Foi fogueira no escuro
Iluminou si mesmo
Queimou, alimentando-se de si
Até que desapareceu
Sem deixar rastros para apodrecer
Pois em sua chama consumiu
Tudo o que havia para consumir