NO
Estou vendo o sol cair lentamente por detrás das
velhas casas. Um avião corta o céu e flutua como
se fosse a rota duma nuvem; penugem sem chegada,
sem ferrugem ou nada. Passando mais perto estrala
um zumbido tranquilo. A estrela é afastada, mas
na nostalgia retorna na forma de um amigo.
O amor silencioso afasta-se, firma no firmamento e
finda. Vejo o que é ser o esplendor em si: a disciplina
do vento é a vida em poder. Não basta querer o querer,
há de se transver para reviver os olhos estremecidos;
torná-los para o seu interior compassivo, que veem o
inesperado, o viver – catalisar-se como um peixe no mar.
E as nuvens quando se desfazem é que começam a
colher. A chuva enquanto cai me faz dormir e perceber.
Pairar no ar como um último poema. Esquecer a ¹tragédia
de Midas. Beber o Amor do quadro em mente, reluzente.
Quando não há outra opção a não ser a monotonia,
respiro e crio a consciência do meu sangue: nada é eterno
e tudo molha como a chuva. Por isso, não deixo o sol
cair em mim, deixando-o. A pintura colorida do que vejo
é o Segredo. Não sei o que me espera, mas equilibro-me
neste Segredo. Sei a Verdade e permaneço nela, à espera.
À ela, que me atravessa e (re)versa, dou lugar confortável,
asas e monto um pequeno avião, com ambição de
voar profundamente pelo seu segredo descomunal e
incomensurável. Mergulhar no mar e não voltar a mesma.
Mergulhar no ²terceiro mar e não precisar mais retornar.
¹Midas é um personagem da mitologia grega. Há um principal mito atribuído a Midas: o de transformar em ouro tudo o que toca, o que torna-se, posteriormente, para ele uma maldição. Quis remeter, desta forma, ao caráter simbólico e metafórico do ouro neste mito à sociedade contemporânea consumista –"Esquecer que o ouro vigente é ouro" "Debruçar-me mais sobre o Verdadeiro Ouro que nem mesmo o ouro finito é capaz de comprar", esse tipo de sentimento.
²A referência ao terceiro mar é uma simbologia que fiz para explicar a necessidade ultrajante que sinto de ir para casa, um lar que ultrapassa os três céus e tudo que existe no meu visível limitado. Expressar o desejo de retornar ao início –"Home where I belong".
início dia 10|10|23 às 19:11
término dia 26|11|23 às 21:11
- Autor: Hyun (em coreano significa: iluminado) (Pseudónimo ( Offline)
- Publicado: 26 de novembro de 2023 18:33
- Comentário do autor sobre o poema: Pintura do Monet acima.
- Categoria: Espiritual
- Visualizações: 10
- Usuários favoritos deste poema: Antonio Luiz, Letícia Alves
Comentários2
Nossa, que forte, ousaria me conar mais sobre esse periodo, pode mandar no particular se quiser
Escrevi algo sobre mim tambem... leia la
Pode me mandar mensagem no privado que explico. Mas já adianto que o tópico está relacionado com o âmbito da fé e de crenças não empíricas.
Vou ler sim! Pode deixar.
Abraços!
Querida poeta e amiga Leticia,
Enquanto vês "o sol cair lentamente por detrás das velhas casas", vemos uma poeta ascender, pairar, e consolidar-se. É muito gratificante acompanhar esse processo!
Um abraço.
Muito obrigada, querido Antonio.
Fico feliz que aprecies este processo.
Grande abraço iluminado!
Para poder comentar e avaliar este poema, deve estar registrado. Registrar aqui ou se você já está registrado, login aqui.