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Letícia Alves


Aviso de ausência de Letícia Alves
NO


Estou vendo o sol cair lentamente por detrás das
velhas casas. Um avião corta o céu e flutua como
se fosse a rota duma nuvem; penugem sem chegada,
sem ferrugem ou nada. Passando mais perto estrala
um zumbido tranquilo. A estrela é afastada, mas
na nostalgia retorna na forma de um amigo.

O amor silencioso afasta-se, firma no firmamento e
finda. Vejo o que é ser o esplendor em si: a disciplina
do vento é a vida em poder. Não basta querer o querer,
há de se transver para reviver os olhos estremecidos;
torná-los para o seu interior compassivo, que veem o
inesperado, o viver – catalisar-se como um peixe no mar.

E as nuvens quando se desfazem é que começam a
colher. A chuva enquanto cai me faz dormir e perceber.
Pairar no ar como um último poema. Esquecer a ¹tragédia
de Midas. Beber o Amor do quadro em mente, reluzente.

Quando não há outra opção a não ser a monotonia,
respiro e crio a consciência do meu sangue: nada é eterno
e tudo molha como a chuva. Por isso, não deixo o sol
cair em mim, deixando-o. A pintura colorida do que vejo
é o Segredo. Não sei o que me espera, mas equilibro-me
neste Segredo. Sei a Verdade e permaneço nela, à espera.

À ela, que me atravessa e (re)versa, dou lugar confortável,
asas e monto um pequeno avião, com ambição de
voar profundamente pelo seu segredo descomunal e
incomensurável. Mergulhar no mar e não voltar a mesma.
Mergulhar no ²terceiro mar e não precisar mais retornar.

¹Midas é um personagem da mitologia grega. Há um principal mito atribuído a Midas: o de transformar em ouro tudo o que toca, o que torna-se, posteriormente, para ele uma maldição. Quis remeter, desta forma, ao caráter simbólico e metafórico do ouro neste mito à sociedade contemporânea consumista –"Esquecer que o ouro vigente é ouro" "Debruçar-me mais sobre o Verdadeiro Ouro que nem mesmo o ouro finito é capaz de comprar", esse tipo de sentimento.

²A referência ao terceiro mar é uma simbologia que fiz para explicar a necessidade ultrajante que sinto de ir para casa, um lar que ultrapassa os três céus e tudo que existe no meu visível limitado. Expressar o desejo de retornar ao início –"Home where I belong".


início dia 10|10|23 às 19:11
término dia 26|11|23 às 21:11

Comentários +

Comentários2

  • SM Lino

    Nossa, que forte, ousaria me conar mais sobre esse periodo, pode mandar no particular se quiser


    Escrevi algo sobre mim tambem... leia la

    • Letícia Alves

      Pode me mandar mensagem no privado que explico. Mas já adianto que o tópico está relacionado com o âmbito da fé e de crenças não empíricas.

      Vou ler sim! Pode deixar.

      Abraços!

    • Antonio Luiz

      Querida poeta e amiga Leticia,

      Enquanto vês "o sol cair lentamente por detrás das velhas casas", vemos uma poeta ascender, pairar, e consolidar-se. É muito gratificante acompanhar esse processo!

      Um abraço.

      • Letícia Alves

        Muito obrigada, querido Antonio.
        Fico feliz que aprecies este processo.

        Grande abraço iluminado!



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