Maximiliano Skol

NÃO QUERO O TEU DESESPERO

Não quero imaginar teu desespero
Não quero... porque também me desespero.
Imaginar um recruta em guerra é fácil:
Se ele fere o inimigo, ou vice-versa
Imaginar um afogamento sei nadar, e d'agua bem me entendo.
Uma morte na fogueira...do fogo tudo se sabe
Uma morte por enforcamento... da forca tem-se a dinâmica.
Da morte à bala: é tema  badalado por ser rápida, em dor fugaz.
E da morte natural, pontualmente...  é natural.
Já pelo teu desespero por fugir da morte,
meu querido periquito
não quero nem imaginar,
porque me desespero
quando te penso penando solitário
na solidão das matas.
E já, por essa  força do pensar te imagino.
E pior, o teu desespero por teres tido prévia experiência dessa solidão
É quando pensarias: Voei de novo? Por que usei as asas?...
Outra vez?...
Passaste seis meses sem  voar, eu lembro.
Com receio da imensidão...
O espectro e a expectativa do sofrido
previamente...
O teu enraizado medo de predadores...
O susto pelo som de um de um ruído
seco de palha
ralando entre a secura...
Entre a verdejantes ramas tudo tem misterio.
Onde as vozes, onde as gentes?
Onde uma gota d'água?
Onde um broto tenro para uma bicada
de fome e sede? Onde uma fruta?
 A estação do ano, agora, é outra...
Onde a proteção garantida de uma gaiola?
A ração em papinhas de horário certo
e das vinte e duas horas ...
Onde a semente de girassol?...
Tua mente em transe, em vertigem te paralisa.
E obrigado sou a imaginar-te mudo,
de galho em galho, de árvore em árvore.
A observar a imensidão que nunca  tiveste.
E para a qual nasceste.
Ao pôr do sol te inquietas e mais mudo ficas.
Usando de tuas tenras argutas garras sobre um ramo qualquer ficas às escondidas.
Em camuflagem, então quieto  te tornas  por disfarce.
E recolhes ao corpo as penas
E bocejas pela  fome, sede
e falta  de proteção.
E os bicos se abrem em meio a bocejos.
E em sucessão de bocejos
tu sofres.
E como sofres um sofrimento inimaginável, inexpressivo no teu abandono.
Sozinho, sem Deus e sem anjos para te socorrerem,
Porque não tens alma, nem uma pós-vida.
Estás a sós no tudo ou nada, 
e tudo ao nada te persegue.
Não quero imaginar a tua angústia, nem o teu desespero.
Mas imagino, afinal, porque te penso  peregrino ao léu e desprezado.
O teu desespero à boca da noite,
eu  imagino.
E sentirás um calor, calor insuportável,
Uma angústia invadirá teu corpo
com respiração ofegante...
Esse calor infernal...
Abrirás as asas por ventilação,
Sentirás ecos cardíacas no cérebro...
Queres te soltar desse inferno.
Mas estás impotente, desidratado, desnutrido.
Então, o bico apoias sobre o galho
Porque cansado imitas um dormir
com a cabecinha assaz pesada.
Depois os olhos se fecham pro adormecer.
Porque és forçado a dormir.
E sem forças, no sono, desgarrarás do galho em queda,
Mas num  sonho com um lindo
e longo voo.
E voarás...voarás...e voarás longínquo
até a inexistência.
É quando sem o desespero que te assaltava
veio-te a paz.
Aleluia!!
Eu, nesse  pensar, também me pacifico!!

Tangará da Serra, 01/09/2023

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  • Autor: Maximiliano Skol (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 24 de Outubro de 2023 13:54
  • Comentário do autor sobre o poema: Sobre o voo do periquito Ring Neck em 26 de julho.
  • Categoria: Triste
  • Visualizações: 14
  • Usuário favorito deste poema: Shmuel.

Comentários2

  • Shmuel

    Lindo e triste! Mas fica aqui a tua indefectível homenagem ao querido e amado Ring Neck.

    Abraços, meu querido poeta, Maximiliano Skol.

    • Maximiliano Skol

      Meu prezado Shmuel, fico feliz pela empatia demonstrada à mensagem do poema, (tão longo) e chegaste até a favoritá-lo.
      Sua alma é muita rica, meu amigo.
      Um abração.

    • Claudio Reis

      Uma prosa
      Um conto
      Um poeta

      Um talento na imensidão poética.

      Abraços.

      • Maximiliano Skol

        Olá, prezado amigo Cláudio.
        Há tempos que o conheço. E como você e
        amado neste MLP.!!
        Fiquei deveras emocionado com o comentário vindo de um sensível coração onde o amor é tido como temática pela fecunda e colorida verve poética, que é a sua.
        Um abração.

        • Claudio Reis

          Quanta honra me concedes com sua réplica, poeta amigo!



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