Desta vida agreste,
Que de tão seca é caatinga,
O corpo lânguido se dilacera
Debaixo deste sol que aporrinha.
A impiedade da lâmina reluzente
Reflete o gosto acre de sangue viscoso.
Somos todos desertos de nós mesmos
Neste vasto sertão que padece de um sono de morto, de fome nordeste e de sonhos de vida um pouco a cada dia.
E assim, o sol do meio-dia, amargo, se faz paisagem
E açoita o solo inerte, onde se semeia o que é míngua.
Nesta vida assolada pelo clima, nada vinga ou é alegria.
Somos todos uma multiplicidade amalgamada de solidões
Em busca de folhagens mais copiosas num mundo distante.
A luz solar penetra ainda mais fundo a pele fustigada pelo tempo voraz,
E quer adentrar violentamente as pálpebras esfaldadas,
Como quem rompe uma porta, desesperado, a pontapés.
- Autor: Gustavo Cunha ( Online)
- Publicado: 29 de setembro de 2023 19:09
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 3
Comentários1
Verdade poeta, " somos todos uma multiplicidade amálgamada de solidão" e como o homem nunca aprende,mesmo sofrendo, vai cortando as árvores,queimando o pouco verde que resta ainda no que já foi a floresta tropical,perto dos rios e mares do Nordeste ..não se aprende a lição,mesmo sofrendo as consequências. Matamos o verde e...aos poucos vamos sem ele morrendo.
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