Quando tudo acabar
e nada mais restar senão
a imensidão escura em que vou mergulhar
lavar-me-ei das lembranças que trago
como nódoas tingidas de memória
No desaparecer do corpo que me carrega
pelo devorar das bactérias e dos calendários
ou no pulverizar incinerado dos ossos
que algum vento norte haverá de dissipar
irei me perder no desassomar repentino de mim
e nenhum sol haverá mais de me fazer acordar
Que destino terão meus sonhos
depois que deixarei de neles sonhar?
Quem ficará com meus falecidos e mortos
com os quais compartilhei as madrugadas em claro
no silêncio antecipado que vinha do mundo lá fora
apenas cortado pelo grito passante das sirenes
e dos roncos hidráulicos dos caminhões de lixo?
Quando tudo então acabar
deixarei o incerto e o provisório
irei para o outro lado em que não existe lado
e vou sumir nas brumas definitivas do esquecimento
- Autor: joaquim cesario de mello ( Offline)
- Publicado: 22 de setembro de 2023 07:29
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 7
Comentários2
Pura e triste verdade! E seremos lembrados ou vituperados pelo bem ou pelo mal que fizemos quando usávamos a capa de humano.
Prezado Joaquim Cesário, poema reflexivo.
A sua cadência estrutural oferece uma escrita gostosa de ler e reler.
Um excelente fim de semana.
Um abraço.
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