Quando tudo acabar
e nada mais restar senão
a imensidão escura em que vou mergulhar
lavar-me-ei das lembranças que trago
como nódoas tingidas de memória
No desaparecer do corpo que me carrega
pelo devorar das bactérias e dos calendários
ou no pulverizar incinerado dos ossos
que algum vento norte haverá de dissipar
irei me perder no desassomar repentino de mim
e nenhum sol haverá mais de me fazer acordar
Que destino terão meus sonhos
depois que deixarei de neles sonhar?
Quem ficará com meus falecidos e mortos
com os quais compartilhei as madrugadas em claro
no silêncio antecipado que vinha do mundo lá fora
apenas cortado pelo grito passante das sirenes
e dos roncos hidráulicos dos caminhões de lixo?
Quando tudo então acabar
deixarei o incerto e o provisório
irei para o outro lado em que não existe lado
e vou sumir nas brumas definitivas do esquecimento