joaquim cesario de mello

QUANDO TUDO ACABAR

 

Quando tudo acabar

e nada mais restar senão

a imensidão escura em que vou mergulhar

lavar-me-ei das lembranças que trago

como nódoas tingidas de memória

 

No desaparecer do corpo que me carrega

pelo devorar das bactérias e dos calendários

ou no pulverizar incinerado dos ossos

que algum vento norte haverá de dissipar

irei me perder no desassomar repentino de mim

e nenhum sol haverá mais de me fazer acordar

 

Que destino terão meus sonhos

depois que deixarei de neles sonhar?

Quem ficará com meus falecidos e mortos

com os quais compartilhei as madrugadas em claro

no silêncio antecipado que vinha do mundo lá fora

apenas cortado pelo grito passante das sirenes

e dos roncos hidráulicos dos caminhões de lixo?

 

Quando tudo então acabar

deixarei o incerto e o provisório

irei para o outro lado em que não existe lado

e vou sumir nas brumas definitivas do esquecimento