ABORTADA POESIA

Maximiliano Skol

O Pôr do Sol deslumbra a colorir o  horizonte.
No Bar da Esquina eu me sento.
E vejo a vida  a  percorrer.
Passantes de semblantes soturnos;
outros, sonâmbulos, desfilam preocupações;
outros sorrisos expandem;
outros ocultam mágoas  numa face contraída.
Um casal tenta  no "jogging" o impossível  contra o sobrepeso.
E tenho dó.
Um luzeiro inquieto espera, no semáforo, adiante.
De repente os farois e o atrito dos pneus no asfalto demonstram liberdade.
Há um esplendor de luzes na Avenida...
Na minha frente um jovem solitário demora na cerveja, absorto
no seu pensamento introvertido.
Com o olhar longe à frente,  mas nada vê.
estático, degusta momentos parados no tempo...
Mesas vazias sonham com  fregueses...
Ao lado uma linda mulher apressa o amado pelo celular.
Além um casal trocam brindes de bons auguros de "saúde"...
Gargalhadas ecoam de pares das mesas estendidas no passeio adjacente ao Bar.
Lindas pernas, aleatórias, entram no recinto,
com rostos esperançosos a expandir juventude.
E pela ampla visão, o bar torna-se um jardim florido.
Dois homens a beber cerveja  num eufórico bate-papo com frango "à passarinho."
E de abdômens abaulados desprezam um hígido futuro.
Eu me sinto a querer integrar-me no ambiente e do garçom recebo uma vodca.
Outros garçons pressurosos e solícitos perpassam por mim
que peço mais uma dose.
É quando sinto que a química nos meus neurônios não  mais existem...
Foram-se os dias da juventude.
Careço da euforia pelos oxidados neurônios.
Será que devo ir com outra dose?
Na dúvida espero, aproveito o tempo
e observo ao redor...
Uma loira de costas vira-se pra mim!!
Descuidei-me da força que um olhar exerce sobre a nuca das pessoas...
Há uma poesia no ar...
Pudera tê-la em meus escritos...
A terceira dose de vodca me traz o golpe fatal:
pela disfunção dos neurotransmissores cerebrais,
ou pelo deficiente metabolismo hepático
a ação psicotrópica do álcool terminou  em efeito paradoxal.
E me retiro, já em ressaca antecipada,
E abortada  poesia.

Tangará da Serra, 24/08/2023.

  • Autor: Maximiliano Skol (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 26 de agosto de 2023 09:36
  • Comentário do autor sobre o poema: Acima, clique sobre Autor: Maximiliano Skol e entra no site–SONETOS DE MAXIMILIANO SKOL.
  • Categoria: Conto
  • Visualizações: 27
Comentários +

Comentários4

  • Lia Graccho Dutra

    Boa tarde,
    poeta Maximiliano :

    Bastante expressiva
    à sua poesia!
    Parabéns pelo
    belo
    desenho
    de todo cenário !
    Nem a ressaca
    antecipada
    prejudicou
    o enredo
    da sua poética .

    Bom sábado!
    Abraço,
    Lia


    • Maximiliano Skol

      Minha querida amiga Lia. Como é agradável receber um comentário seu, porque ele vem carregado de certeza de ser válido, devido à sua inata sinceridade
      Fico-lhe imensamente grato.
      Beijos.

    • Sergio Neves

      SERGIO NEVES - ...meu amigo...,...abortada poesia?! ...tás doido? ...foi pelo efeito da vodka essa tua insensata conclusão? ...fizeste aqui um intenso e belo "relato" poético, isso sim!...jogou-nos para dentro desse "bar da esquina" com toda a força...,...abriste uma lente grande angular de mais de 1000mm e captaste cenas que ainda que "corriqueiras" pudessem ser, na tua poética visão se tornaram pra lá de sublimemente "oníricas"...,...traçaste o cenário todo com tanta sensibilidade que de "comum" passou à um patamar de "pura magia" -tranformaste toda aquela "atmosfera" em pura poesia! / ...e, olha, eu vou te contar,...eu lendo esse teu bem inspirado escrito, me veio à mente a figura de um Ernest Hemingway sentado numa cadeira de uma qualquer bodega de Havana a "baforar" um original cubano charuto e a "talagar" runs a mil (a "vodka" é uma primazia tua) e a tudo observar com um mesmo encantado "olhar" como esse que aqui tu tiveste...-sem tirar nem por... // ...uma outra coisinha: ..."disfunção neurotransmissora"?! ...isso pode até ser aceito como sendo um circunstancial brilhante "fecho" para esse teu brilhante escrito,...mas,...outra vez cá entre nós,...a real "sinapse" que de ti é está mais funcional do que qualquer outra existente por aí...) // (...caramba!..."falei" pra dedéu! ...culpa tua e dessas grandezas que escreves...) /// Abçs.

      • Maximiliano Skol

        Eita, que baita comentário!...Faltou você, querido Sérgio, naquele Bar. E numa mesa com amigos e cercado de lindas mulheres. Você a dominar a atenção de todos com o seu dote de \"conversationalist\" inteligente. E sem faltar um excelente vinho, é claro. Ali você dissertaria sobre o conflito Rússia/Ucrânia, sobre a cultura Woke, geopolítica e os BRICS +; sem falar no seu conhecimento de ótica e de neurofisiologia. Deixemos literatura de lado...
        Do Hemingway li, apenas, o Velho e o Mar, quando ainda no Ginásio, depois assisti ao filme com Spencer Tracy.
        Devo-lhe imensa gratidão pelo apreço ao tema publicado, pois eu o tinha como banal; e me foi difícil decidir a publicá-lo.
        Um fraternal e forte abraço.

      • Maria dorta

        Puxa vida,! Depois dessa demonstração dos dois gênios poetas(Sérgio e Skol,) fiquei sem palavras para homenagear o telúrico poema que muito nos ensina! E parabenizo o poeta pela proeza de beber vodka e com uma incrível sobriedade ainda produzir um poema de escol. Tiro meu chapéu!

        • Maximiliano Skol

          Minha querida Dorta, eu esperava a sua presença que sempre me traz imensa satisfação. Você nunca falha.
          Magnânima, tende a descobrir algo digno que merece ter a oferta dos seus preciosos comentários.
          Que tenha um abençoado domingo.
          Beijos.

          • Maria dorta

            Tudo muito merecido. Reconheço um talento de longe! Bom Domingo!

          • Maximiliano Skol

            Meu caro amigo EVieira, fico-lhe alegremente grato por prestigiar-me ao favoritar o poema.
            Um forte abraço.



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