BOIADEIRO  DE OURO

Arlindo Nogueira

Quando ouço o berrante

Meu coração pulsa forte

Numa viagem importante

Naquela estrada do norte

Eu conduzia uma boiada

De bois de grande porte

Raça de gado franqueiro

Laçar é questão de sorte

De passo lento seguindo

No instinto  pressentindo

Que o destino era o corte

 

Ao passar o leito do rio

Onde a onça bebe água

Boi madrinheiro sentiu

Cheiro fresco da maiada

E toda a boiada estourou

Só ficou poeira na estrada

Dei rédea em meu cavalo

Nos estalos das rosetadas

O gado sumiu de repente

Àquele boiadeiro valente

Não pode fazer mais nada

 

O rebanho de franqueiros

Só deixou rastros no chão 

Tropa solta sem boiadeiro

Faz um tropel sem direção

Naquele trecho da estrada

Os bois venceram o peão

Que voltou até a fazenda

Para dar ciência ao patrão

Só ficou poeira na estrada

Daquela boiada estourada

Há imagem de frustração

 

Eu larguei da tocar boiada

Vendi até o cavalo mouro

Para outro peão de estrada

Dei meu laço e o cachorro

Só fiquei com a lembrança

De herança daquele estouro

E lá no mourão da porteira

Deixei meu relho de couro

Símbolo de uma despedida

De que lutou dando a vida

Tal qual boiadeiro de ouro

  • Autor: Arlindo Nogueira (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 2 de agosto de 2023 02:35
  • Comentário do autor sobre o poema: Escrevi a Poesia “Boiadeiro de Ouro”, refletindo o modo de vida desse peão, na condução de boiada. Que durante sua passagem em comitiva, ele representa parte dos boiadeiros ligados à pecuária. Sempre montado em lombo de cavalos, o boiadeiro atravessa diversas paisagens em viagens que chega a durar meses, conduzindo grande quantidade de gado. Há uma letra de música “Boiadeiro errante” de Sérgio Reis, que me inspirou na confecção dessa poesia. Essa letra tem um trecho que diz: “Toque o berrante com capricho, Zé Vicente; Mostre para essa gente o clarim das alterosas; Pegue no laço, não se entregue, companheiro; Chame o cachorro campeiro; Que essa rês é perigosa”. O Peão de Boiadeiro é um homem treinado na lida de gado, não costuma deixar um boi para trás, na missão de entragar a boiada no destino, conforme recebeu na origem da viagem. Metaforicamente a minha poesia fala de um Boiadeiro que não conseguiu chegar ao destino com sua boiada. E, por não admitir fracassar na sua profissão, ele preferiu parar de tocar boiada. Isso mostra o grau de seriedade que o Boiadeiro encara a sua atividade, dentro da estrutura e cotidiano de seu trabalho. Assim, o Boiadeiro constitui a sua identidade com técnicas de manejo com o gado, onde ressalta a sua experiência e os meios de sobrevivência nas comitivas pelas estradas boiadeiras. Boa leitura da nossa Poesia “Boiadeiro de Ouro” e da frase do Pensador: “Boiadeiro é aquele que nasceu para a estrada, ama uma moda de viola e cuja alma é feita com suor, poeira e jornada”.
  • Categoria: Reflexão
  • Visualizações: 6
  • Usuários favoritos deste poema: Lia Graccho Dutra


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