Arlindo Nogueira

BOIADEIRO  DE OURO

Quando ouço o berrante

Meu coração pulsa forte

Numa viagem importante

Naquela estrada do norte

Eu conduzia uma boiada

De bois de grande porte

Raça de gado franqueiro

Laçar é questão de sorte

De passo lento seguindo

No instinto  pressentindo

Que o destino era o corte

 

Ao passar o leito do rio

Onde a onça bebe água

Boi madrinheiro sentiu

Cheiro fresco da maiada

E toda a boiada estourou

Só ficou poeira na estrada

Dei rédea em meu cavalo

Nos estalos das rosetadas

O gado sumiu de repente

Àquele boiadeiro valente

Não pode fazer mais nada

 

O rebanho de franqueiros

Só deixou rastros no chão 

Tropa solta sem boiadeiro

Faz um tropel sem direção

Naquele trecho da estrada

Os bois venceram o peão

Que voltou até a fazenda

Para dar ciência ao patrão

Só ficou poeira na estrada

Daquela boiada estourada

Há imagem de frustração

 

Eu larguei da tocar boiada

Vendi até o cavalo mouro

Para outro peão de estrada

Dei meu laço e o cachorro

Só fiquei com a lembrança

De herança daquele estouro

E lá no mourão da porteira

Deixei meu relho de couro

Símbolo de uma despedida

De que lutou dando a vida

Tal qual boiadeiro de ouro