Marcelo Veloso

CORROPÇÃO

A metade da metade é o quê?

E a parte que te cabe desse latifúndio?

O que resta do prato de comida é o quê?

E a frase velada e descosa nesse gerúndio?

 

O ajuntar coisas não é consumo,

o ajustar coisas não é confuto,

o arrefecer não é retirar o sumo,

o arremeter não é destilar o surto.

 

Onde estavas alguns anos atrás?

O que pensavas do teu futuro?

Achava que não pagarias o pato?

Ou o seu presente é um status absoluto?

 

O tirar dos outros virou sinônimo viesado,

e o desvirtuar ganhou uma nova linhagem,

agora, quando é pra si o gatunar,

tem como sinônimo enfático, uma outra linguagem.

 

A venda coloca os olhares à venda,

e a sujeira enfeitiça, putrefaze,

a inclemência se torna mais lasciva,

p’rum diagnóstico que não tem frase.

 

Ah, aí o deboche vira espetáculo,

faz-se uma gambiarra em discurso,

e a concentração de tudo está ali.

Mas, eis o que era culpa de outros,

já não se tem mais nenhum recurso,

nem como se esquivar e chamar de mimimi.

 

A verdade perde o seu fado,

o donativo agora só se vê d’um lado:

- Ah, mas, o que comanda agora é a situação!

O que era errado não é comédia,

e a mentira escabrosa perdeu a rédea:

- O que é mesmo corrupção?

 

Assim, com uma musicalidade vilanesca,

e uma tenuidade cênica e babélica,

a sentença é uma vingança que delira,

o segredismo é com uma livre-troca,

que balizando por uma odisseia bélica,

faz o apoderamento virar uma brejeira gambira.

 

Dá-se a cor, a ruptura,

Dá-se a opção, a conjuntura,

E vira tudo um “senão”.

Então a grafia se emoldura,

e até muda (fica) a nossa literatura,

p’rum escrever escrachado: “corropção”.

  • Autor: Marcelo Veloso (Offline Offline)
  • Publicado: 31 de Julho de 2023 16:23
  • Comentário do autor sobre o poema: O que era parecia não ser para quem fazia...agora não se ter virou fantasia...a opção então é um reta rasa ou sem razão. O CENTRO disso tudo não é invenção, tem um aumentativo escabroso - é CORROPÇÃO.
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 8


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