A metade da metade é o quê?
E a parte que te cabe desse latifúndio?
O que resta do prato de comida é o quê?
E a frase velada e descosa nesse gerúndio?
O ajuntar coisas não é consumo,
o ajustar coisas não é confuto,
o arrefecer não é retirar o sumo,
o arremeter não é destilar o surto.
Onde estavas alguns anos atrás?
O que pensavas do teu futuro?
Achava que não pagarias o pato?
Ou o seu presente é um status absoluto?
O tirar dos outros virou sinônimo viesado,
e o desvirtuar ganhou uma nova linhagem,
agora, quando é pra si o gatunar,
tem como sinônimo enfático, uma outra linguagem.
A venda coloca os olhares à venda,
e a sujeira enfeitiça, putrefaze,
a inclemência se torna mais lasciva,
p’rum diagnóstico que não tem frase.
Ah, aí o deboche vira espetáculo,
faz-se uma gambiarra em discurso,
e a concentração de tudo está ali.
Mas, eis o que era culpa de outros,
já não se tem mais nenhum recurso,
nem como se esquivar e chamar de mimimi.
A verdade perde o seu fado,
o donativo agora só se vê d’um lado:
- Ah, mas, o que comanda agora é a situação!
O que era errado não é comédia,
e a mentira escabrosa perdeu a rédea:
- O que é mesmo corrupção?
Assim, com uma musicalidade vilanesca,
e uma tenuidade cênica e babélica,
a sentença é uma vingança que delira,
o segredismo é com uma livre-troca,
que balizando por uma odisseia bélica,
faz o apoderamento virar uma brejeira gambira.
Dá-se a cor, a ruptura,
Dá-se a opção, a conjuntura,
E vira tudo um “senão”.
Então a grafia se emoldura,
e até muda (fica) a nossa literatura,
p’rum escrever escrachado: “corropção”.