Caminhando rumo a casa
Onde mora a utopia.
Disseram-me que lá
Não tem telhado, não tem tijolos,
Não tem lajes, não tem janelas,
Não tem portas, não tem pisos,
Não tem latrinas, não tem torneiras,
Nem chuveiros e nem jardins formigueiros!
Era impossível imaginar uma
Ideia de casa. Oras, não há nada,
Como lá irei morar? Se quero um lugar
Para descansar nas noites frias.
Para almoçar a comida quente do alguidar.
Para beber o café coado no coador de pano.
Para ler os poetas sentado numa cadeira de balanço!
Mas se não há casa e móveis,
Eu não teria tudo isso. Ter tudo isso,
É talvez encontrar a utopia, ou é cotidiano?
O corriqueiro é banal, fútil, talvez ela esteja
Contida nisso tudo, ou eu não a vejo, ou ela não está!
A certo modo, acho que utopia é indigente,
Andarilha da ruas assim como eu e os esquecidos.
Será que ela está ali na esquina sentada?
Esperando os que acreditam nela.
Será que ela está numa cama debilitada?
Esperando os que constroem e reconstroem ela.
Será que ela se esconde e é escoltada?
Esperando os tímidos se rebelarem e a usufruir.
Eu continuo caminhando,
Agora com a certeza de que a utopia não tem casa!
Indeciso se eu necessito dela pra viver, ou ela de mim!
A cada passo que eu dou, eu vejo que todos têm casas,
Mas será que todos têm um lar? Eis a questão, há diferenças.
Vejo os pássaros voando cantando com um prazer inumano,
Vejo os idosos andando, cigarro na boca, cheiro de alfazema.
Vejo a vida acontecendo, mas eu estou somente caminhando.
Paro em meio ao gigante prédio da praça central,
Ali estava reunido pessoas de todas as classes sociais,
Todos conversavam sem preconceito, e sem brigas,
Eu fecho os olhos, penso que estou tendo um delírio,
Abro, e as pessoas continuam ali, todas olhando a mesma coisa,
Num momento estagnado a essa utopia cinematográfica,
Num momento estagnado a essa utopia revolucionária.
Vou em meio às pessoas, ver o que estava acontecendo,
Poderia ser algo muito grave, pois, todos ali era uma utopia,
Chegando em meio aos povos, um homem estirado no chão.
Parecia-se muito comigo, vestia a mesma blusa maltrapilha,
Calçava o mesmo sapato de couro sintético, usava o mesmo chapéu,
Tinha o mesmo cabelo crespo, e estava de olhos abertos olhando pro céu.
Perguntei ao amigo ao lado -o que aconteceu?-quem é esse cara?-
E o amigo respondeu-me - morreu de poesia, a procura da utopia.-
Eu olhei para o céu, ele continuava azul, e os pássaros ainda cantavam
O prédio e a praça continuavam da mesma maneira, nada mudou-se.
Gritei em voz alta - UTOPIA, cadê você?!-, as pessoas que estavam
Olhando para o meu eu caído no chão, viraram-se contra mim,
E com um riso gozador, disseram como um coral sinfônico
-Ela não existe!-, tive a certeza de que aquele morto no chão, era eu.
Aparte a essa morte de um pedaço de mim, vi que não se deve procurar
A utopia, deixe que ela nos encontre, nem que isso demore longos tempos,
Após eu entender o jogo da utopia, as pessoas iam se desfazendo do círculos,
O rico e o pobre saiam se ofendendo, assim como o negro e o branco,
O pardo e o mulato, a magra e a gorda, e assim sucessivamente.
Aquela união era a utopia tentando me enganar, tão boba ela, agora sei que
Ela está em todas as coisas fúteis dessa vida. Assim, seguirei caminhando.
- Autor: Wesley S. Souza (Pseudónimo ( Offline)
- Publicado: 21 de julho de 2023 14:17
- Categoria: Surrealista
- Visualizações: 6
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