Wesley Santos Souza

D’onde Mora a utopia

Caminhando rumo a casa 

Onde mora a utopia.

Disseram-me que lá

Não tem telhado, não tem tijolos, 

Não tem lajes, não tem janelas,

Não tem portas, não tem pisos, 

Não tem latrinas, não tem torneiras,

Nem chuveiros e nem jardins formigueiros!

Era impossível imaginar uma

Ideia de casa. Oras, não há nada, 

Como lá irei morar? Se quero um lugar 

Para descansar nas noites frias.

Para almoçar a comida quente do alguidar.

Para beber o café coado no coador de pano.

Para ler os poetas sentado numa cadeira de balanço!

 

Mas se não há casa e móveis,

Eu não teria tudo isso. Ter tudo isso,

É talvez encontrar a utopia, ou é cotidiano?

O corriqueiro é banal, fútil, talvez ela esteja

Contida nisso tudo, ou eu não a vejo, ou ela não está!

A certo modo, acho que utopia é indigente,

Andarilha da ruas assim como eu e os esquecidos.

Será que ela está ali na esquina sentada? 

Esperando os que acreditam nela.

Será que ela está numa cama debilitada?

Esperando os que constroem e reconstroem ela.

Será que ela se esconde e é escoltada?

Esperando os tímidos se rebelarem e a usufruir.

 

Eu continuo caminhando,

Agora com a certeza de que a utopia não tem casa!

Indeciso se eu necessito dela pra viver, ou ela de mim!

A cada passo que eu dou, eu vejo que todos têm casas,

Mas será que todos têm um lar? Eis a questão, há diferenças.

Vejo os pássaros voando cantando com um prazer inumano,

Vejo os idosos andando, cigarro na boca, cheiro de alfazema.

Vejo a vida acontecendo, mas eu estou somente caminhando.

 

Paro em meio ao gigante prédio da praça central,

Ali estava reunido pessoas de todas as classes sociais,

Todos conversavam sem preconceito, e sem brigas,

Eu fecho os olhos, penso que estou tendo um delírio,

Abro, e as pessoas continuam ali, todas olhando a mesma coisa,

Num momento estagnado a essa utopia cinematográfica,

Num momento estagnado a essa utopia revolucionária.

Vou em meio às pessoas, ver o que estava acontecendo,

Poderia ser algo muito grave, pois, todos ali era uma utopia,

Chegando em meio aos povos, um homem estirado no chão.

Parecia-se muito comigo, vestia a mesma blusa maltrapilha,

Calçava o mesmo sapato de couro sintético, usava o mesmo chapéu,

Tinha o mesmo cabelo crespo, e estava de olhos abertos olhando pro céu.

Perguntei ao amigo ao lado -o que aconteceu?-quem é esse cara?-

E o amigo respondeu-me - morreu de poesia, a procura da utopia.-

Eu olhei para o céu, ele continuava azul, e os pássaros ainda cantavam

O prédio e a praça continuavam da mesma maneira, nada mudou-se.

Gritei em voz alta - UTOPIA, cadê você?!-, as pessoas que estavam 

Olhando para o meu eu caído no chão, viraram-se contra mim,

E com um riso gozador, disseram como um coral sinfônico

-Ela não existe!-, tive a certeza de que aquele morto no chão, era eu.

 

Aparte a essa morte de um pedaço de mim, vi que não se deve procurar

A utopia, deixe que ela nos encontre, nem que isso demore longos tempos,

Após eu entender o jogo da utopia, as pessoas iam se desfazendo do círculos,

O rico e o pobre saiam se ofendendo, assim como o negro e o branco,

O pardo e o mulato, a magra e a gorda, e assim sucessivamente.
Aquela união era a utopia tentando me enganar, tão boba ela, agora sei que 

Ela está em todas as coisas fúteis dessa vida. Assim, seguirei caminhando.