Brincadeira de batalha

Alberto Neto

 

Estou na penúltima penumbra 

acabaram-se quase todas as plumas 

que recheiam meu travesseiro 

fico aqui ouvindo o tiroteio 

entre o berço e a loucura, 

não quero mais acordar 

no sonho eu gostaria de morar

 

Não importa o quanto eu implorar 

mamãe não vai ajudar a escapar 

nessa batalha, ela me disse 

todos temos de nos sacrificar 

 

Enquanto ainda sou uma mera criança 

acostumada a dar tiros de estilingue 

me preparo para lançar balas 

de um tal grosso calibre

 

A guerra, eu sei, não permite deslizes 

meu pai se perdeu no meio 

dos gritos agudos dos rifles

foi levado como um desconhecido 

lembro dele muito ferido

nós não podemos visita-lo 

e entregar as flores 

apenas sentir as dores 

que nos consomem o corpo 

e corroem nossa alma

 

No velho campinho de várzea

local das festas e serenatas

agora caminham as almas penadas 

eu apenas peço que meu pai 

encontre a nossa casa e 

espero não perder essa partida 

 

Minha mãe me aguarda 

com um belo pedaço de bolo

hoje é meu aniversário 

acho que vou nascer de novo

  • Autor: Autor Lírico (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 3 de março de 2020 03:28
  • Categoria: Sociopolítico
  • Visualizações: 9


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