Acusada de amar demais

Jose Fernando Pinto


ILUSTÍSSIMO POETA JULGADOR:
Tenha um bom dia.
Bem-vindo a esse Tribunal.
Que Vossa Senhoria possa julgar com maestria.
A Lei dos Poetas deve ser cumprida,
E a acusada, aqui presente,
Num ato inconsequente,
Colocou em risco uma vida.
Ela apaixonou-se por um poeta
Virou Musa em lindos versos.
Mas o seu amor era tão intenso
Que afunilou o seu universo.
Já não aceitava que o poeta pudesse
Mais falar de flor, do mar, da terra,
Dos passarinhos,
De um horizonte encantador.
Amor intenso e egoísta
Que deixava o poeta sem ação
E os seus versos alvissareiros
Foram confinados numa prisão.
Eu te acuso de egoísmo,
Ceifadeira de emoção,
Que você perca o Título de Musa dos Poetas
E compreenda o que é razão!
Amar demais nunca foi crime,
Mas amor também é ponderação,
Se a Ré se mostra egoísta e dominadora,
Eu recomendo sua condenação;
É razoável querer um amor para si.
Mas o amor não pode ser prisão,
Pois o poeta é um observador,
E as poesias, libertação.
(Queixa do Ofendido por Jose Fernando Pinto)


ILUSTRÍSSIMO SENHOR POETA JULGADOR:
A Musa dos Poetas,
Ora acusada de Amar Demais,
Vem, mui, respeitosamente,
Refutar às inverdades
Dos versos acusatórios
Do poeta que se diz ofendido.
Para tanto, inicialmente cabe frisar
Que é fato notório,
Sabido e consabido,
Pela Comunidade Poética
Que a acusada e o ofendido
Viveram um tórrido caso de amor.
Mas quanto a esses particulares
Não cabe a nós entrar no mérito,
Aqui nesse Egrégio Tribunal,
Por razões de decoro e respeito.
De fato, o poeta amou
A musa por breves anos.
Enquanto durou o frescor,
A juventude e a beleza dela.
Depois passou a desprezá-la.
Não quis mais acariciar
Seu corpo esguio.
Deixou de beijar
Seus lábios carnudos.
Sequer olhava
Nos seus olhos
Verdes-esmeralda.
E não tardou em partir.
Para nunca mais voltar.
Tal abandono causou
Sério gravame psíquico
À saúde da musa
Que entrou em estado
De profunda depressão.
Máxima Vênia, a acusada
Foi induzida em erro
Pelas belas falácias
De um poeta galanteador.
Sim, deixou-se seduzir
Por juras de amor eterno
Mas, ela nem imaginava
Que tudo não passava
De uma grande ilusão.
Uma quimera do coração.
Extasiado de tanta paixão.
Vãs promessas que o vento
Levou embora para sempre.
E restam sepultadas
Pelas névoas do esquecimento.
A musa foi acusada
De egoísmo,
De ceifadeira de emoção.
Todavia, nada disso é verdade!
É apenas uma ideação.
Devaneios da mente
criativa de um poeta.
Ademais, será uma tamanha Humilhação,
Uma afronta à sua dignidade
Se a acusada perder
o Título de Musa dos Poetas.
Acima de tudo, cumpre destacar
Que ainda não inventaram
Uma forma cabal e inequívoca
De mensurar a amplitude
E a intensidade do Amor.
Porque cada pessoa
Tem um jeito peculiar de amar.
O importante é Amar
E se fazer Amado!
AMAR DEMAIS
Não é conduta típica,
Não é crime!
Pois “ não há crime sem lei
anterior que o defina.”
Assim, a queixa do ofendido
É uma aberração e as suas
acusações são descabidas,
Devendo a acusada ser
Sumariamente Absolvida.
Para que se faça
A costumeira
E lídima JUSTIÇA!
( Alegações da Acusada por Lia Graccho Dutra)


Vistos, etc...
Trata-se a presente demanda
De uma contenda de mútua ferida
De também mútua acusação
E cada qual com sua versão
Pugnando ao Tribunal guarida.
Em denúncia o poeta demandante
Com ímpeto de tamanho ressentimento
Sustenta ser vítima de egoísmo
Viu-se colocada a vida em risco
E subtraídos versos da sua inspiração
Teria sido ceifada sua própria emoção
Requerendo no rito deste procedimento
Remediar a sua dor de um ser amante
Impingindo razão a quem ama demais
Em desmedida de ponderação e mais
Pleiteia contra a parte que acusa
A retirada do seu título de musa.
Em sua eloquente contestação
A denunciada de ter amado demais
Tenta refutar o que chama de inverdades
Nos versos alinhados na acusação
Viu-se envolvida com uma falsa realidade
Dizendo-se iludida, passada para trás
Ter sido enganada depois da sedução
Após galanteada por juras de muito amor
Depois de tanta entrega e tanto carinho
De uma história de tanta intensidade
Colheu o fruto do amargo desprezo e dor
Com o poeta indo embora sem mais voltar
Depois de tanta entrega e tanto carinho
Aponta na defesa a acusada de muito amar
Assevera que ao amor não pode haver medida
Não se dimensiona, não se pode mensurar
E, concluindo sua defesa, assim ela se exprime
No seu papel de persuadir, de forma incontida
Diz ser aberração tratar o amor como crime
Requerendo que sumariamente seja absolvida
E por suas razões e a tudo mais que lhe afeta
A manutenção do Título de Musa dos Poetas.
Diante do breve relatório do que dos autos consta
Atento à sensibilidade do que me é trazido
À escrita fina de tantas razões por letras de emoções
Que de parte a parte se coloca sob o olhar deste julgador
Tenho firme que a razão não se pode a ninguém impingir
Nessas questões das esferas do coração e do amor
Tenho convicção formada e, assim, decido:
Que não é razoável exigir medida de ponderações
Onde o imponderável se faz a essência
E, compulsando os autos, resta-me assim decidir
Consoante lírica e poética jurisprudência
Que de fato o verso se faz asa de libertação
Mas não é crível que o amor seja corrente
Seja prisão, jaula, cela ou que seja ferro de grilhões
Temos que a liberdade do ser amado demais seja a medida
Essa medida exata da escala das suas próprias escolhas
Quando o amor é demais, talvez queira-se sacrificar a vida
Permitir-se ao fascínio que entorpece a mente e o coração
E ao desalentado sofrimento da própria privação, são escolhas
Não sendo passível a alegação do suposto universo afunilado
Ser da responsabilidade de quem quer que tenha amado
E no turbilhão do mútuo amor desmedido, a ponderação
O que poderia ser o norte deste decreto de sentença
É cada qual lamber suas próprias feridas por penitência
Razão pela qual dou a questão por resolvida
Com a manutenção do Título de Musa dos Poetas
Àquela que por Amar Demais já se faz absolvida
Sem custas, por nunca se custar amar!
Publique-se, por poesia
(Decisum do Poeta Julgador, por Hébron Reis Dias)

  • Autores: Jose Fernando Pinto, Lia Graccho Dutra, Hébron
  • Visível: Todos os versos
  • Finalizado: 13 de junho de 2023 21:39
  • Limite: 3 estrofes
  • Convidados: Hébron, Lia Graccho Dutra.
  • Comentário do autor sobre o poema: O Poema Mesclado “ Acusada de Amar Demais” não é um trabalho de cunho jurídico, razão pela qual não segue toda a ritualística do processo penal. É uma criação ficcional, fruto da inspiração e liberdade poética de Jose Fernando Pinto, Lia Graccho Dutra e Hébron Reis Dias que por coincidência, além de poetas; também são advogados.
  • Categoria: Amor
  • Visualizações: 108
  • Usuários favoritos deste poema: Lia Graccho Dutra, Mariany A.N Dutra
Comentários +

Comentários11

  • Vilmar Donizetti Pereira

    Excelentíssimos senhores, componentes desse júri poético, ao ler a réplica da acusação e da defesa, e as tréplicas escorreitas dos digníssimos advogados, se eu fosse o Juiz absolveria a ré pelos crimes a ela imputadas, porque a acusação de amar demais não vejo que caberia dentro da jurisprudência que a ré ficasse em cárcere. Parabéns pelo belo poema mesclado desenvolvidos pelos Poetas e Advogados! Bom dia! Um abraço.

    • Jose Fernando Pinto

      Obrigado Vilmar, grande abraço!

      • Hébron

        Muito obrigado!!!

      • Maria Ventania

        Que show de poesia!!! Está hipercriativo e muito bem escrita. Arte pura e consolidada nas partes envolvidas nesse belíssimo mesclado!!! Amei!!! Beijão à todos.

        • Jose Fernando Pinto

          Gratidão Maria Ventania, grande abraço!

          • Hébron

            Muito obrigado, poetisa!

          • SANTO VANDINHO

            rsrsrsrssr Parabéns aos Doutores Advogados e Advogada! rsrsrsr A Poesia enriquece todas as áreas de atuação ! Deixo minha simples opinião = Que o Título da Poetisa seja mantido e que Ela passe a mais Si Cuidar e Cuidar, pois é o verdadeiro Amar ! rsrsrsr Paz e bem !

            • Jose Fernando Pinto

              Obrigado Santo Vandinho, grande abraço!

              • Hébron

                Obrigado, amigo poeta!

              • Lia Graccho Dutra

                Boa tarde,
                queridos poetas!

                Participar dessa
                demanda poética
                foi uma
                experiência
                inovadora e
                maravilhosa!
                Muito obrigada,
                queridos poetas,
                Jose Fernando Pinto
                e Hébron Reis Dias
                pela parceria poética!
                O caso que poetizamos,
                é uma criação
                poética ficcional.
                Mas, a poesia
                já chegou
                aos Tribunais,
                através de alguns
                pronunciamentos
                de juízes que
                proferiram
                sentenças
                em versos.
                Sem dúvida,
                são importantes
                precedentes
                que enaltecem
                a arte poética.

                Gratidão pela atenção
                e pelos significativos
                comentários aos poetas :
                Vilmar Donizetti
                Pereira,
                Maria Ventania,
                Santo Vandinho
                e EVieira!

                Carinhoso abraço,
                Lia

              • Lia Graccho Dutra

                Aproveitando a oportunidade,
                para convidar todos
                os queridos poetas
                para visualizarem
                o mesclado
                “ Os Verdadeiros Alquimistas”,
                aberto pelo Vilmar
                Donizetti Pereira,
                onde o EVieira e eu
                participamos
                como convidados.
                Muito obrigada!
                Linda tarde,
                Lia

              • CORASSIS

                Esse trio é competente, na arte poética e na profissão que exercem!
                PARABÉNS queridos e eternos humanos amigos .
                Abraço.

                • Lia Graccho Dutra

                  Obrigada ,querido poeta Corassis,
                  pelas palavras
                  sinceras
                  que saíram
                  direto do teu
                  amado coração!
                  Pétalas de flor
                  para ti!
                  Carinhoso abraço,
                  Lia

                  • Jose Fernando Pinto

                    Amigo Corassis, obrigado por palavras tão gentis, grande abraço!

                    • Hébron

                      Valeu, meu nobre amigo Corassis!

                    • Sergio Neves

                      SERGIO NEVES - ...vou começar essas minhas considerações praticamente dando uma "sentença" final com relação aos meus sentimentos frente a tudo o que aqui eu li: -...que inveja! / ...pois é,...com isso eu até poderia encerrar o meu comentário... -mais clareza na apresentação de uma minha "consideração final" impossível...,...mas, não, eu vou seguir o sacro "ritus verborum"" dos que dominam o métier jurídico...,...vou "falar" mais um tiquinho: -...o "negócio" que vocês escreveram tá de uma literariedade pra lá de se admirar...,...uma ideia inusitadamente preciosa que o inspiracional de vocês "absorveu" com maestria, resultando nesse "luxo" de escrito(s)...,...e, vou dizer mais, isso não está posto aqui simplesmente em razão só do fato de serem advogados, de terem uma cultura mais adequada...,...está posto aqui muito mais por apresentarem uma sensibilidade além da conta...,...mais do que um escrito mera e supostamente "jurídico" na sua essência e formato, é uma obra poética de alto nível... -que, como eu sei, foi propositadamente engendrada... // ...bom, mudando um pouco "de alho para bugalho", vou dar um pitaco no cerne da questão desse "julgamento": -...essa tal musa foi inocentada corretamente...,...afinal, uma musa não se faz por si,...uma musa é "eleita"" ...,...então... // ah! ...mais uma coisinha, aproveitando todo esse clima "tribunalesco": -...'"data venia",...condeno, sem perdão, a vocês três! ...motivo?...quase o mesmo de parte do argumento primeiro -o da acusação,...como é que eu vou agora "entabular" alguma coisa que preste para por aqui postar depois de terem publicado essa grandiosidade?...isso não se faz! /// Abraços e parabéns!

                      • Jose Fernando Pinto

                        Caro Sergio Neves, muito obrigado por todas as considerações, e com certeza você vai entabular lindas poesias como sempre o faz, grande abraço!

                        • Hébron

                          Meu poeta, certamente veremos sua obra em cada verso da sua inspiração! E muitíssimo obrigado pelas considerações do seu comentário.
                          Abraço

                          • Lia Graccho Dutra

                            Querido poeta Sergio!

                            Muito obrigada
                            pela atenção,
                            carinho e gentileza!

                            Carinhoso abraço,
                            Lia

                          • Mariany A.N Dutra

                            Boa noite amigos!!!
                            Lia querida S2 passando aqui para apreciar o espetacular poema mesclado! Obrigada por me enviar o link! S2

                            Ficou muito bacana!! Admirada com tamanha elegância poética.

                            Eu que sou da área da educação, acabei me lembrando de uma metodologia ativa, o "Júri-simulado", que trata de uma estratégia de ensino utilizada para incentivar os estudantes a refletir sobre diversas temáticas (de cunho polêmicos) por meio de debates utilizando a mesma estrutura de um tribunal do júri. (O bacana é como vocês o fizeram de forma poética e artística) ... Valorizando ainda mais a questão da interdisciplinaridade... Ponto bastante relevante para a educação!
                            A arte faz ponte com diversas áreas de conhecimento.. por isso eu amo tanto! S2

                            Grata aos poetas responsáveis por compartilhar essa preciosidade que ficou o mesclado! (José Fernando, Hébron e Lia)

                            Parabéns!
                            Grande abraço a todos!
                            Uma excelente noite!

                            • Jose Fernando Pinto

                              Querida Mariany, gratidão pelos comentários. Você tem razão, a arte é realmente uma ponte, uma bela forma de conectar culturas e povos distintos, como dizia Gullar, "a arte existe porque a vida não basta", grande abraço!

                              • Mariany A.N Dutra

                                Bravo Gullar!!
                                Abraço poeta!

                                • Lia Graccho Dutra

                                  Bom dia, poeta Mary!

                                  Muito obrigada
                                  pela atenção,
                                  delicadeza,
                                  carinho
                                  e a
                                  pertinente
                                  explanação
                                  que
                                  compartilhou!

                                  Carinhoso abraço,
                                  Lia



                                • Hébron

                                  Fico grato por seu gentil e valoroso comentário, poetisa!
                                  Abraço

                                • Maximiliano Skol

                                  Ah!... Como posso me meter em causas forenses, quando o meu mundo se limita ao rol de Ciências Exatas onde não há margem para malabaristicas ponderações. Fico como um "outslder" limitando- me a embasbacado pela competência forense de três advogados tão artisticamente delineados dentro da poética. Sinto-me impotente e ao tempo que deslumbrado pela arte que o Direito permite em considerações sobre um suposto réu de ser
                                  culpado, ou inocente. É aqui que, então, a honestidade a imparcialidade entram na consciência de um veredito justo. A meu ver "amar demais" não é crime, pois tudo lhe é permitido inclusive o homicídio e/ou suicídio em prol do amor. O Cristo "suicidou-se" por amar aos demais. Quão voláteis são os recursos no Direito. Réus são absolvidos, ou inocentes são mal interprerados nas suas prerrogativas.
                                  No caso, o poeta me pareceu infiel à sua musa como tal e já desviava a sua inspiração por subjetivas observações fora da tangível beleza da sua autêntica musa.
                                  Declaro a ré inocente e que o "amar demais" tem todo direito a reconhecimento e de retribuição igualitária.
                                  O poeta não a tinha mais como musa por isso ela "Já não aceitava que o poeta pudesse
                                  Mais falar de flor, do mar, da terra, Dos passarinhos,
                                  De um horizonte encantador"
                                  E ao invés de continuar a vê-la como inspiradora, buscava outras curiosidades: "Pois o poeta é um observador,
                                  E as poesias, liberação"
                                  Permaneço imensamente lisonjeado quando a querida amiga e ilustre poetisa Lia Graccho me alertou com o link desse emocionante certame poético.
                                  Parabéns a todos.

                                  • Jose Fernando Pinto

                                    Obrigado caro Maximiliano pelas observações, grande abraço!

                                    • Lia Graccho Dutra

                                      Bom dia,
                                      querido poeta,
                                      Maximiliano Skol!

                                      Muito nos honra
                                      à sua atenção,
                                      à sua generosidade
                                      e a sabedoria
                                      de suas palavras!
                                      Muito obrigada,
                                      grande abraço!
                                      Lia

                                      • Hébron

                                        Meu amigo Maximiliano, suas palavras são sempre envolventes e interessantes, sejam por seus ricos poemas ou em interações de comentários. Obrigado e forte abraço

                                      • Maria dorta

                                        Meus geniais poetas_ advogados JFernando,Lia e Hebron: acabei de ler essa bela peça litero-' poética onde o brilho advocatício e poético dos três chega até a me ofuscar de beleza e criatividade poética onde se finje um julgamento onde os três causídicos mostram ,com brilho ,pertinência jurídica a competência e dons poéticos dos três deixando_ me " bouche bee" ,cá entre nós de " boca aberta,atonita' com tanto talento,beleza e erudição poetico_ jurídica! E pergunto,- me: onde andava eu que só AGORA caiu_ me sob os olhos esse poema notório e original?! E eu nem sequer estive fora do país nesses últimos cinco meses!!! Como não vi?! Parabenizo os meus três gurus pois vocês três são fontes inesgotáveis de erudição,talento poético sendo minha inspiração. Chapeau bas! Aplausos de pé!

                                        • Jose Fernando Pinto

                                          Gratidão querida Dorta, sempre gentil conosco, mas não esqueça que você é nossa grande inspiração poética, grande abraço!

                                          • Maria dorta

                                            JF...cuidado com o que diz rsrsrs

                                            • Jose Fernando Pinto

                                              É verdade querida Dorta, você é pura inspiração!



                                            Para poder comentar e avaliar este poema, deve estar registrado. Registrar aqui ou se você já está registrado, login aqui.