CASA BANGALÔ

Arlindo Nogueira

O voar seleto dum beija-flor

Sobre o ventre do vale verde

Desvela seu ninho na parede

Daquela casa no pé da serra

Casa bangalô parece tapera

A relva já cobriu o caminho

No oitão há ali dois ninhos

Onde o beija-flor é vizinho

Do lindo canarinho da terra

 

Eu resido na casa bangalô

Naquele vale parece tapera

Dentro dela vivo na espera

Que talvez volte meu amor

Ela é o puro néctar da flor

É a rainha da casa da serra

Ninho do canário da terra

Ninho meu e do beija-flor

 

Eu sou sósia do beija-flor 

Sou desse vale da restinga

Vim das águas do jacutinga

Nessa casa de tabua lascada

De janelas e portas fechadas

Vivo ali vizinhos não tenho

Há na parede lindo desenho

Duma flor minha namorada

 

Tal qual um colibri ela voou

Atravessou o rio foi embora

Solitário meu coração chora

Nessa casa coberta de flores

No oitão cantar do beija-flor

Remete meu olhar à restinga

Perpassa águas do jacutinga

Na espera de ver meu amor

 

  • Autor: Arlindo Nogueira (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 1 de junho de 2023 01:08
  • Comentário do autor sobre o poema: Escrevi a Poesia “Casa Bangalô”, para relembrar minha infância no interior e as minhas histórias de amor. A casa bangalô foi uma herança dos meus pais, eles mudaram para outro Estado e deixaram essa casa para mim. Ali morei algum tempo com uma flor, linda e perfumada, mas, que aproveitado as águas de março, cruzou o rio jacutinga e foi embora. Agora vivo ali sozinho, colho os cacos duma paixão mal resolvida. Talvez o beija-flor e o canarinho da terra, entenderam minha solidão e resolveram vir fazer seus ninhos no oitão dessa casa bangalô. O mundo hoje anda tão confuso e as relações pessoais também se confundem, se quer muito e se desapega rapidamente. Amor implica, em estimulá-lo a crescer e a aprender, as formas de amar de verdade. Eu me sinto estimulado vivendo só nessa casa, pela rica natureza do lugar, pelos pássaros, restingas e a boa água do rio jacutinga. Nesse espaço lindo, eu vou partilhando minhas coisas com o beija-flor. Quem sabe um dia ele me empresta suas asas, para mim voar rapidamente a procura do meu amor. Boa leitura a todos àqueles, que direto ou indiretamente têm raízes no interior.
  • Categoria: Amor
  • Visualizações: 5
  • Usuários favoritos deste poema: Shmuel
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Comentários1

  • Shmuel

    Arlindo Nogueira, esta poesia ficou linda! Tem o bucólico, e o lamento se entrelaçando com a vegetação ao redor. Adorei!

    Abraços!

    • Arlindo Nogueira

      Obrigado Poeta Shmuel! Suas palavras sempre bem colocadas e carregadas de significados, engrandecem o texto poético. Essa polissemia, característica dos poetas, está muito presente em seus contextos, como no seu poema, "Eu sou assim", ratificado nos seguintes versos: Trago um mundo no olhar, Sonho, cores e canções". Abraço e muitas palmas.



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