É nesse quarto eternamente escuro.
Em que jaz morta toda a esperança.
Que vivo preso, morto prematuro.
Acorrentado à mais cruel lembrança.
Em desvairado choro de criança.
A suplicar sem ser jamais ouvido.
Respiro a dor em toda a sua pujança.
Qual parricida já arrependido.
Tento orar, a prece não me acalma.
Pelo contrário, mais culpa me imputa.
Feito navalha que me corta a alma.
Com lâmina untada de mortal cicuta.
E com agulhas que me furam o ser.
A culpa em mim potencializa a ânsia.
De viver a morte, fugindo de viver.
Escravizado nessa imunda estância.
E nesse quarto por Deus esquecido.
Vivo abraçado a serpente venenosa.
Cumprindo a pena de anjo caído.
Vítima da teia divina e ardilosa.
E nesse quarto para sempre desterrado.
Comendo as sobras de todas as dores.
Que regurgito após ter excretado.
Me empanzinando de mil dissabores.
Minha sombra triste é parte desse quarto.
Com suas paredes caiadas de loucura.
De pedras frias das quais não me aparto.
Quarto assombrado, eterna sepultura.
- Autor: Victor Severo ( Offline)
- Publicado: 25 de maio de 2023 10:35
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 6
- Usuários favoritos deste poema: Drica
Comentários1
Adoro seus poemas! São tão bons de se ler e bonitos, mas carregados e obscuros. Misteriosos. 🙂
Feliz por você gostar, agradecido pela leitura e interação.
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