É nesse quarto eternamente escuro.
Em que jaz morta toda a esperança.
Que vivo preso, morto prematuro.
Acorrentado à mais cruel lembrança.
Em desvairado choro de criança.
A suplicar sem ser jamais ouvido.
Respiro a dor em toda a sua pujança.
Qual parricida já arrependido.
Tento orar, a prece não me acalma.
Pelo contrário, mais culpa me imputa.
Feito navalha que me corta a alma.
Com lâmina untada de mortal cicuta.
E com agulhas que me furam o ser.
A culpa em mim potencializa a ânsia.
De viver a morte, fugindo de viver.
Escravizado nessa imunda estância.
E nesse quarto por Deus esquecido.
Vivo abraçado a serpente venenosa.
Cumprindo a pena de anjo caído.
Vítima da teia divina e ardilosa.
E nesse quarto para sempre desterrado.
Comendo as sobras de todas as dores.
Que regurgito após ter excretado.
Me empanzinando de mil dissabores.
Minha sombra triste é parte desse quarto.
Com suas paredes caiadas de loucura.
De pedras frias das quais não me aparto.
Quarto assombrado, eterna sepultura.