Victor Severo

Culpa.

É nesse quarto eternamente escuro.

Em que jaz morta toda a esperança.

Que vivo preso, morto prematuro.

Acorrentado à mais cruel lembrança.

 

Em desvairado choro de criança.

A suplicar sem ser jamais ouvido.

Respiro a dor em toda a sua pujança.

Qual parricida já arrependido.

 

Tento orar, a prece não me acalma.

Pelo contrário, mais culpa me imputa.

Feito navalha que me corta a alma.

Com lâmina untada de mortal cicuta.

 

E com agulhas que me furam o ser.

A culpa em mim potencializa a ânsia.

De viver a morte, fugindo de viver.

Escravizado nessa imunda estância.

 

E nesse quarto por Deus esquecido.

Vivo abraçado a serpente venenosa.

Cumprindo a pena de anjo caído.

Vítima da teia divina e ardilosa.

 

E nesse quarto para sempre desterrado.

Comendo as sobras de todas as dores.

Que regurgito após ter excretado.

Me empanzinando de mil dissabores.

 

Minha sombra triste é parte desse quarto.

Com suas paredes caiadas de loucura.

De pedras frias das quais não me aparto.

Quarto assombrado, eterna sepultura.