Quisera escrever uma carta
que sei jamais farei
para revelar murmurante
meus segredos mais miúdos
Confesso
espreito-te pelas frestas do cotidiano
(naquele dia em outubro passado
sem que sequer desses conta
furtei de ti o olhar de entardecer
com que absortas miravas o céu
como quem cata naturalmente anjos)
Até mesmo
nos momentos dos teus banhos
tantas vezes escutei por detrás da porta
o teu adornar de essências e espumas
e invejei
(ah, deus sabe como invejei!)
a água que percorria
acariciante teu corpo
como um amante em abraços
tão íntimos e úmidos
que nunca dei
Quisera escrever esta carta
que sei jamais farei
____________
Originariamente publicado no livro A VIDA COMO UM ESPANTO, Joaquim C. de Mello, (ed. Labrador/SP, 2022)
- Autor: joaquim cesario de mello ( Offline)
- Publicado: 14 de abril de 2023 07:27
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 10
Comentários1
SERGIO NEVES - ...bom, meu caro, me parece que a carta já está (foi) escrita...,...e escrita sublimemente,...com uma "concisidade" digna de quem "diz tudo falando pouco"...,...sensibilidade "à flor da pele"!...e tudo pra lá de poético! // (...só não sei se a "destinatária" vai ter a oportunidade de ler...,...mas, que deveria, ah!...deveria, sim...,...bem que os Céus poderiam a isso corroborar...) // Abçs.
Obg pela sua sensível leitura e palavras que nos estimulam a continuar
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