Não há mais testemunhas
no céu da infância
- Do menino sou
seu único legado
Em seguida espichei
meio metro em mim se somou
e todos ao redor me chamaram de rapaz
Vivi agudamente
os anos da mocidade
e não morri jovem
Depois vieram as décadas
em que ninguém mais celebrava
com bolos os meus aniversários
- Quando logo me vi
já estava na meia-idade
Perdi cabelos
fomes e desejos
e no espelho do banheiro
tudo se modificava
- Joguei no lixo
o diploma de datilografia
que não mais prestava
Minha memória
sempre aumentava
até que um dia
se tornou maior do que eu
Agora
que após o depois do amanhã
só espero o escuro e o nada
vou brincar de volta
com meu menino
até quando terminar
esta prolongada
e derradeira madrugada
- Autor: joaquim cesario de mello ( Offline)
- Publicado: 18 de março de 2023 18:08
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 20
Comentários2
Muito bonito e envolvente.
Nós crescemos e quando nos percebemos em realidade, nos despercebemos nas possibilidades do que somos... Acho que somos além do que imaginamos e acreditamos...
Mas de todas as minhas personalidades, a mais bacana é a criança inocente que apenas sonhava e ainda brinca comigo!
Abraço, caríssimo poeta
Caro amigo poeta, Hébron. Certa vez a poeta norte-americana, vencedora do Nobel de Literatura de 2020, Louise Gl"uck, escreveu "vemos o mundo uma única vez, na infância, o resto é memória"
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