Não há mais testemunhas
no céu da infância
- Do menino sou
seu único legado
Em seguida espichei
meio metro em mim se somou
e todos ao redor me chamaram de rapaz
Vivi agudamente
os anos da mocidade
e não morri jovem
Depois vieram as décadas
em que ninguém mais celebrava
com bolos os meus aniversários
- Quando logo me vi
já estava na meia-idade
Perdi cabelos
fomes e desejos
e no espelho do banheiro
tudo se modificava
- Joguei no lixo
o diploma de datilografia
que não mais prestava
Minha memória
sempre aumentava
até que um dia
se tornou maior do que eu
Agora
que após o depois do amanhã
só espero o escuro e o nada
vou brincar de volta
com meu menino
até quando terminar
esta prolongada
e derradeira madrugada