Oi!
Tá bem aí!?
Olha, eu trouxe pão e patê,
bolachas e aquela camiseta
sem mangas!
Fala com o advogado!
Ele tá enrolando,
vocês que tão aí fora
não percebem!
A assistente social fez
uma entrevista comigo
ontem. Eu vou pro sanatório!
Meu artigo é de viciado!
Você ainda é minha filha!
Não aguento mais, faz
cinco anos que eu tô aqui!
Mas também esta é a última
vez!
Eu sempre te disse para procurar
Nossa Senhora de Aparecida!
Tô aqui às minhas custas,
se veio pra enche o saco
sai fora!
Eu não me conformo,
não me conformo...!
O doutor vai quebrar o flagrante!
Vou deixar o cigarro, vinte reais
e papel higiênico!
Você tem feito a barba!?
Aqui a gente tem muito tempo
para pensar!
Quando eu sair daqui,
aquele filho da puta
vai dançá! Escreve o que eu digo!
A comida? Dá pra ir...!
Acabou, acabou...
vamos saindo..
Seu carcereiro, posso
pegar na mão dela
pra despedir!?
OBS. Poema escrito na década de 1990, quando o autor era policial civil operacional. Composto com frases reais entre visitantes e presos de uma cadeia pública durante o dia de visita, enquanto monitorava a vigilância. A poesia se encontra em todo lugar.
- Autor: eduardo cabette ( Offline)
- Publicado: 15 de março de 2023 18:59
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 9
Comentários2
Ainda bem que tua sensibilidade foi um escudo em um tipo de trabalho que pode deixar o ser humano contaminado pela vivência. O olho poético sensível vê poesia ao redor. Aplausos.
Obrigado! Abraço!
Muito bom! Uma experiência e tanta.
Amo o Vale do Paraíba! Principalmente Guaratinguetá e Aparecida do Norte.
Abraços!
Obrigado! Abraço!
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