Oi!
Tá bem aí!?
Olha, eu trouxe pão e patê,
bolachas e aquela camiseta
sem mangas!
Fala com o advogado!
Ele tá enrolando,
vocês que tão aí fora
não percebem!
A assistente social fez
uma entrevista comigo
ontem. Eu vou pro sanatório!
Meu artigo é de viciado!
Você ainda é minha filha!
Não aguento mais, faz
cinco anos que eu tô aqui!
Mas também esta é a última
vez!
Eu sempre te disse para procurar
Nossa Senhora de Aparecida!
Tô aqui às minhas custas,
se veio pra enche o saco
sai fora!
Eu não me conformo,
não me conformo...!
O doutor vai quebrar o flagrante!
Vou deixar o cigarro, vinte reais
e papel higiênico!
Você tem feito a barba!?
Aqui a gente tem muito tempo
para pensar!
Quando eu sair daqui,
aquele filho da puta
vai dançá! Escreve o que eu digo!
A comida? Dá pra ir...!
Acabou, acabou...
vamos saindo..
Seu carcereiro, posso
pegar na mão dela
pra despedir!?
OBS. Poema escrito na década de 1990, quando o autor era policial civil operacional. Composto com frases reais entre visitantes e presos de uma cadeia pública durante o dia de visita, enquanto monitorava a vigilância. A poesia se encontra em todo lugar.