eduardo cabette

DIA DE VISITA

Oi!

Tá bem aí!?

 Olha, eu trouxe pão e patê,

bolachas e aquela camiseta

sem mangas!

Fala com o advogado!

 Ele tá enrolando,

vocês que tão aí fora

não percebem!

 A assistente social fez

uma entrevista comigo

ontem. Eu vou pro sanatório!

Meu artigo é de viciado!

Você ainda é minha filha!

 Não aguento mais, faz

cinco anos que eu tô aqui!

 Mas também esta é a última

vez!

 Eu sempre te disse para procurar

Nossa Senhora de Aparecida!

 Tô aqui às minhas custas,

se veio pra enche o saco

sai fora!

 Eu não me conformo,

não me conformo...!

 O doutor vai quebrar o flagrante!

 Vou deixar o cigarro, vinte reais

e papel higiênico!

 Você tem feito a barba!?

 Aqui a gente tem muito tempo

para pensar!

 Quando eu sair daqui,

aquele filho da puta

vai dançá! Escreve o que eu digo!

 A comida? Dá pra ir...!

 Acabou, acabou...

vamos saindo..

 Seu carcereiro, posso

pegar na mão dela

pra despedir!?

 

OBS. Poema escrito na década de 1990, quando o autor era policial civil operacional. Composto com frases reais entre visitantes e presos de uma cadeia pública durante o dia de visita, enquanto monitorava a vigilância. A poesia se encontra em todo lugar.