joaquim cesario de mello

O DEUS DAS COISAS MORTAS

 

Ao futuro depois de mim não chegarei
a imortalidade dura o intervalo permitido
pelo sangue que pulsa em minha carne

No amanhã em que não acordarei
o Sol não me encontrará no quarto
e as roupas penduradas nos cabides 
jamais serão por mim utilizadas

Deixarei tudo como tudo estava
nos seus devidos territórios e lugares
enquanto a Terra continuará girando
e criando outros anos e aniversários

Nunca mais irei me rever nos retratos
esses pequenos pedaços de espelhos de papel
onde lá ficaram aos olhares vindouros
todas minhas repentinas eternidades

Aos que hão de vir e chegar
doarei o montante dos objetos colecionados
que durante muitos anos me acompanharam
como vestígios além de mim preservados

Após concluído meu inventário
espalhar-me-ei pelo mundo inteiro
em novos cômodos, quartos e salas
onde serei cultuado pela memória das coisas
quase como se fosse um deus invisível
desconhecido, extinto e esquecido
pelo futuro que chegará depois de mim
quando nem pelos versos serei lembrado

 

Comentários2

  • SANTO VANDINHO

    Reflexivo e a triste realidade da Transformação insuportável que ocorre com os Seres Terrestre do Planeta Terra e quiçá dessa Dimensão que vai além da Imaginação, mas fazer o que rsrsrsr se foi o jeito que a Origem Criadora (Deus) encontrou para viver se provavelmente já tinha feito vida fixa que procurando o que fazer encontrou essa essa maneira de si distrair e sobreviver ! Paz e Bem Poeta !

  • regipoeta

    Uma belíssima reflexão poética sobre a nossa passagem... Parabéns! Encantada com o autor.

    • joaquim cesario de mello

      Obrigado plo gentil comentário, regi. E obrigado também pela tua leitura



    Para poder comentar e avaliar este poema, deve estar registrado. Registrar aqui ou se você já está registrado, login aqui.