Ao futuro depois de mim não chegarei
a imortalidade dura o intervalo permitido
pelo sangue que pulsa em minha carne
No amanhã em que não acordarei
o Sol não me encontrará no quarto
e as roupas penduradas nos cabides
jamais serão por mim utilizadas
Deixarei tudo como tudo estava
nos seus devidos territórios e lugares
enquanto a Terra continuará girando
e criando outros anos e aniversários
Nunca mais irei me rever nos retratos
esses pequenos pedaços de espelhos de papel
onde lá ficaram aos olhares vindouros
todas minhas repentinas eternidades
Aos que hão de vir e chegar
doarei o montante dos objetos colecionados
que durante muitos anos me acompanharam
como vestígios além de mim preservados
Após concluído meu inventário
espalhar-me-ei pelo mundo inteiro
em novos cômodos, quartos e salas
onde serei cultuado pela memória das coisas
quase como se fosse um deus invisível
desconhecido, extinto e esquecido
pelo futuro que chegará depois de mim
quando nem pelos versos serei lembrado