(DES)ENCONTROS

 

Nada acontece por acaso

nem o acaso

 

Se não te percebi do outro lado da calçada

é porque nasci torto e inclinado a olhar o oposto.

 

Se não te vi sentada na mesa em frente

é porque tenho mania de me sentar de costas

 

Se não te encontrei ali

é porque eu estava aqui

 

Se não nos esbarramos ou nos tropeçamos

é porque ando constantemente atrasado

ou um segundo adiantado

 

Se não te conheci na festa

é porque naquele dia estava acamado

 

Se nunca fomos apresentados

é porque teus amigos não são meus amigos

 

Quando passastes à porta

eu me encontrava à janela

Quando passastes à janela

eu me achava fechando a porta

 

Quando entrei na rua

tu dobravas a esquina

Quando dobrei a esquina

tu entravas na loja

 

Quando passavas na faixa de pedestre

eu vislumbrava o semáforo

Quando enxerguei a faixa de pedestres

tu já tinhas ido embora

 

Quando finalmente me vistes

eu amarrava os sapatos

Quanto enfim te vi

tu olhavas as vitrines

 

Se hoje vivemos outros amores

e somos felizes com netos e filhos

foi porque nosso destino

estava escrito nas estrelas erradas

 

Nada acontece por acaso

nem o acaso

 

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Originalmente publicado no livro A VIDA COMO UM ESPANTO, de autoria de Joaquim Cesário de Mello, pela Editora Labrador (SP), em 2022.

O mesmo também se encontra disponível em vídeo, no site Palavra´s, com declamação de Marcos Antônio Terras, através do link: www.youtube.com/watch?v=8fd-0w0aRwI