Estou no centro da solidão da cidade
enquanto a noite debruçada sobre o teto das casas
repousa indiferente ao sono dormente dos quartos
Nos arredores de mim ouço apenas
o cochicho murmuroso dos postes
e o zzzzz zum zum dos mosquitos
a me apoquentar os ouvidos
(acima da noite que nos encobre
tudo deve ser tão silencioso
como um infinito prolongado)
Às três da manhã da noite
até as estrelas não brilham mais
e a lua se esconde do sol
por detrás dos prédios e das árvores
Se precisasse de sonhos
bastaria fechar as pálpebras
e deixar pesar por cima delas
o pó da poeira dos meus cansaços
Mas de sonhos já sou feito
- Necessito conhecer o que penso
e quem sou além dos disfarces
Abaixo dos meus telhados
reside um Joaquim clandestino
que viaja comigo
sem ter comprado passagem
Este Joaquim sigiloso
é alguém que não conheço
pois, como Pessoa, nem bem entendo
que alma tenho e que crenças
são estas que não fui eu quem fiz
e nem sei quem em mim as plantou
Por sob os pensamentos que herdei
e que tamparam as lacunas das paredes
deste cubículo em que me encontro aprisionado
existe um sou eu mais aprofundado
um sou eu nunca dantes meditado
um sou eu ainda não tocado ou experimentado
um sou eu que nem eu mesmo sei quem sou
Às três da manhã da noite pareço libertado
sozinho no coração da solidão da cidade
- Autor: joaquim cesario de mello ( Offline)
- Publicado: 28 de janeiro de 2023 08:06
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 14
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