joaquim cesario de mello

PROLONGADA MADRUGADA

 

Meus pêsames

o galo morreu

 

Quem acordará a manhã das madrugadas?

Quem tricotará o novo alvorecer

e o desnudar da escuridade?

 

Como o Sol saberá a hora de se levantar

e o mundo voltar a despertar?

 

E se a noite nunca mais for embora

ou se até a luz também acabar?

 

Que será de nós sem as auroras

e os almoços de meio-dia?

 

De que serventia terá o horizonte ao mar

se todas as praias ficarem mulatas?

 

Que acontecerá com o calor dos verões

se nem os corpos serão mais bronzeados?

 

O que faremos em uma noite assim tão dilatada

cuja boca fechada nos manterá encobertos

detendo os fios das matinadas?

 

Se à noite todos os gatos são pardos

como saberei distinguir você da sua sombra

sua silhueta da sua alma?

 

Como enxergarei com quem durmo

se nem mesmo tenho para quem acordar?

 

Uma madrugada que não termina

jamais será uma noite apressada

e se a claridade nos for proibida

desaparecerei despercebido

tão incógnito como um absoluto nada

 

As insônias noturnas serão imensas

e todos viveremos sonâmbulos

perambulando por um quarto

do tamanho maior que uma cidade

 

O galo morreu e nenhum sino dobrou

em que cemitério ele foi sepultado?

...

 

Mas galos nunca deveriam morrer

e nem pelos vizinhos serem assassinados

pois sem eles os universos seriam

apenas infinitas massas desalumiadas

 

Quem agora acordará a manhã

depois desta prolongada madrugada?

  • Autor: joaquim cesario de mello (Offline Offline)
  • Publicado: 24 de Janeiro de 2023 13:15
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 13


Para poder comentar e avaliar este poema, deve estar registrado. Registrar aqui ou se você já está registrado, login aqui.