Geraldo

Antonio Olivio

Houveram tempos  sombrios

No sertão do Jataí

No corrego do bravos homens

O lugar de onde vim

 

Haviam meieiros companheiros,

Lavradores de terras alheias,

Que se misturavam à capoeira

em seu destino sagrado.

 

O quanto quem lavra é lavrado?

Quem poderá me dizer,

Se o suor do homem na terra

Ajuda a semente a crescer.

 

Para que nunca esqueçamos, 

Destes seres iluminados,

Passo a contar a história, 

De um  certo, Senhor Geraldo.

 

Um homem de pouca sorte,

Mas com muita disposição,

Tinha uma  família simples,

Moravam num barracão.

 

Uma esposa companheira,

Três filhos como missao:

Um menino pequenino,

Duas moças, no enxadão.

 

Dorvina e Dorvalina,

Já não tinham ilusão,

Brincavam de capinar

Pra ter direito, ao pão.

 

Naquele tempo, era assim 

Quem não tinha sua terra,

Trabalhar durante o dia,

Pra  noite ter pra comer 

 

Aconteceu , certo dia...

Que Geraldo e suas filhas,

Trabalharam para ter a paga,

Em gordura, que nao tinham.

 

Porém no fim da empreitada,

Não lhe deram , o pagamento

E em casa não tinham como ,

Temperar o alimento.

 

Geraldo, homem de paz 

Foi pelo caminho, abatido

Levou as meninas pra casa,

Ter o descanso merecido.

 

Quando lhe viu de mãos vazias,

A sua mulher perguntou: 

Onde esta a gordura,

Que por ela trabalhou?

 

Pergunta, que como faca,

Entrou no seu coração, 

Um silencio como resposta,

No lugar da explicação.

 

Depois daquele momento,

Voltou para a estrada o Geraldo,

Na intenção de pedir o óleo, 

Ainda que fosse emprestado.

 

De  casa em casa bateu,

Em cada uma,  um não,

em cada não , um sorriso

De pura indignação.

 

Um, era porque não tinha,

Outro, que não quisera,

Um , que não estava em casa 

Outro que tinha pouco.

 

Um, que queria moedas,

Que o Geraldo pobre não tinha.

Um lhe contava piadas, 

Outro, em sua cara ria.

 

Um,  que  lhe mostrava Também,

A sua  panela vazia.

Outro, que  sem intenção,

Nem a porta lhe abria

 

Foi assim que veio a noite,

Naquela preocupação, 

Daquele homem valente,

Andando na escuridão.

 

E na última alternativa ,

Encontrou o Sr. Ermínio 

Que entendendo o suplício 

O convidou a entrar.

 

Dentro da sua cozinha,

Se puseram a conversar 

Geraldo contou a história 

Que fez o amigo  chorar

 

Não tenho muito, Geraldo

Duas conchas posso dar,

Pediu para Esposa Odete ,

Na panela colocar.

 

Dona Odete percebeu 

Aquela necessidade 

E uma terceira concha pôs,

De tanta boa vontade.

 

Depois desta caridade,

Geraldo voltou pra casa

Senhor Ermínio e Dona Odete 

Na sua prece , estava

 

Obrigado!! era o que dizia 

Com os olhos postos no céu 

As lágrimas já lhe escorriam

Embaixo do seu chapéu 

 

No alforge , três conchas tinham

Três milagres verdadeiros,

Três sorrisos incontidos,

Tomavam seu rosto inteiro.

 

Três kilômetros para andar,

Até chegar aos três filhos,

Três beijos em  sua esposa,

E com amor lhe abraçar

 

No céu escuro e profundo,

Três estrelas a lhe guiar 

Como os três Reis, que outrora fora

Um Deus menino encontrar.

 

Um sentimento no coraçao

Que nenhum dinheiro, pode comprar

Quando se tem um amigo,

Que sabe o que é partilhar.

 

Naquela hora tão calma,

O lavrador foi lavrado,

E plantou uma semente,

Que que só frutifica na alma.

 

Naquele solo sagrado,

Geraldo foi flutuando,

A trindade do Deus vivo

Para o céu  lhe carregando.

 

 

 

Antonio Olivio 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

  • Autor: Antonio Olivio (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 10 de janeiro de 2023 17:59
  • Comentário do autor sobre o poema: Há alguns dias , na casa do meu tio no Sítio ele me contou uma história, que resolvi dar outro destino e ao mesmo tempo homenagear estes personagens tão importantes , que já foram e são muito injustiçados e é condições precárias na roça, a produzir alimentos para aa sociedade e muitas vezes não tendo o que comer....
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 13
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Comentários2

  • Maria dorta

    Uma triste história que se repete pelos sertões deste nosso Brasil tão injusto: o caboclo trabalhando de sol a sol, magro como berimbau, comendo farinha seca e calango...uma tristeza só e desde sempre a miséria e a fome desses pobres são companheiras... até quando a desigualdade na distribuição das riquezas? Isso causa indignação e tristeza.um belo mas triste poema_ denúncia. Bom retorno,amigo!

  • Vilmar Donizetti Pereira

    Parabéns pela belo poema, que conta uma história real e triste! Eu também já pude conviver com algumas situações muito parecidas dessa que descreveu muito bem! Pelo interior aqui da minha região era muito comum acontecerem essa situação, no tempo dos meus avós, meus tios e meus pais. Bom dia, um abraço!



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