Houveram tempos sombrios
No sertão do Jataí
No corrego do bravos homens
O lugar de onde vim
Haviam meieiros companheiros,
Lavradores de terras alheias,
Que se misturavam à capoeira
em seu destino sagrado.
O quanto quem lavra é lavrado?
Quem poderá me dizer,
Se o suor do homem na terra
Ajuda a semente a crescer.
Para que nunca esqueçamos,
Destes seres iluminados,
Passo a contar a história,
De um certo, Senhor Geraldo.
Um homem de pouca sorte,
Mas com muita disposição,
Tinha uma família simples,
Moravam num barracão.
Uma esposa companheira,
Três filhos como missao:
Um menino pequenino,
Duas moças, no enxadão.
Dorvina e Dorvalina,
Já não tinham ilusão,
Brincavam de capinar
Pra ter direito, ao pão.
Naquele tempo, era assim
Quem não tinha sua terra,
Trabalhar durante o dia,
Pra noite ter pra comer
Aconteceu , certo dia...
Que Geraldo e suas filhas,
Trabalharam para ter a paga,
Em gordura, que nao tinham.
Porém no fim da empreitada,
Não lhe deram , o pagamento
E em casa não tinham como ,
Temperar o alimento.
Geraldo, homem de paz
Foi pelo caminho, abatido
Levou as meninas pra casa,
Ter o descanso merecido.
Quando lhe viu de mãos vazias,
A sua mulher perguntou:
Onde esta a gordura,
Que por ela trabalhou?
Pergunta, que como faca,
Entrou no seu coração,
Um silencio como resposta,
No lugar da explicação.
Depois daquele momento,
Voltou para a estrada o Geraldo,
Na intenção de pedir o óleo,
Ainda que fosse emprestado.
De casa em casa bateu,
Em cada uma, um não,
em cada não , um sorriso
De pura indignação.
Um, era porque não tinha,
Outro, que não quisera,
Um , que não estava em casa
Outro que tinha pouco.
Um, que queria moedas,
Que o Geraldo pobre não tinha.
Um lhe contava piadas,
Outro, em sua cara ria.
Um, que lhe mostrava Também,
A sua panela vazia.
Outro, que sem intenção,
Nem a porta lhe abria
Foi assim que veio a noite,
Naquela preocupação,
Daquele homem valente,
Andando na escuridão.
E na última alternativa ,
Encontrou o Sr. Ermínio
Que entendendo o suplício
O convidou a entrar.
Dentro da sua cozinha,
Se puseram a conversar
Geraldo contou a história
Que fez o amigo chorar
Não tenho muito, Geraldo
Duas conchas posso dar,
Pediu para Esposa Odete ,
Na panela colocar.
Dona Odete percebeu
Aquela necessidade
E uma terceira concha pôs,
De tanta boa vontade.
Depois desta caridade,
Geraldo voltou pra casa
Senhor Ermínio e Dona Odete
Na sua prece , estava
Obrigado!! era o que dizia
Com os olhos postos no céu
As lágrimas já lhe escorriam
Embaixo do seu chapéu
No alforge , três conchas tinham
Três milagres verdadeiros,
Três sorrisos incontidos,
Tomavam seu rosto inteiro.
Três kilômetros para andar,
Até chegar aos três filhos,
Três beijos em sua esposa,
E com amor lhe abraçar
No céu escuro e profundo,
Três estrelas a lhe guiar
Como os três Reis, que outrora fora
Um Deus menino encontrar.
Um sentimento no coraçao
Que nenhum dinheiro, pode comprar
Quando se tem um amigo,
Que sabe o que é partilhar.
Naquela hora tão calma,
O lavrador foi lavrado,
E plantou uma semente,
Que que só frutifica na alma.
Naquele solo sagrado,
Geraldo foi flutuando,
A trindade do Deus vivo
Para o céu lhe carregando.
Antonio Olivio