Sessenta e quatro folhas

Antonio Luiz

a saudade chegou numa cantiga de roda

o pai Francisco entrou, tocou seu violão

tirou e botou, mas nem o Zambelê ficou

por ali, apenas o meu primeiro caderno

completo, com sessenta e quatro folhas

lembrança tão carinhosa e já tão anosa:

por seis anos não temos a mesma idade

por seis anos estou mais esbranquiçado

ele nem tanto: preserva-se encadernado

num lindo papel de presente cuchê azul

fechei os olhos ao segurá-lo novamente

umedeci os olhos cerrados ao folhea-lo

na folha de rosto, dobrada tal triângulo

gravados à caneta, meu nome e o título

por Luiza, mãe, e a primeira professora

nas outras, frutinhas coladas nos cantos

recortadas carinhosamente por meu pai

com a sua tesourinha mágica de bigode

de papéis de bala que eu juntava na rua

mágico era também aquele seu canivete

das pontas esculpidas nos lápis cotocos

que meus dedos magrelos empunhavam

pra registrar palavras, novas ou sabidas

abrandando essa sede que de lá já trago

  • Autor: Antonio Luiz (Offline Offline)
  • Publicado: 6 de dezembro de 2022 08:34
  • Comentário do autor sobre o poema: Um ensaio de prosa poética, cheio de saudade!
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 10


Para poder comentar e avaliar este poema, deve estar registrado. Registrar aqui ou se você já está registrado, login aqui.