a saudade chegou numa cantiga de roda
o pai Francisco entrou, tocou seu violão
tirou e botou, mas nem o Zambelê ficou
por ali, apenas o meu primeiro caderno
completo, com sessenta e quatro folhas
lembrança tão carinhosa e já tão anosa:
por seis anos não temos a mesma idade
por seis anos estou mais esbranquiçado
ele nem tanto: preserva-se encadernado
num lindo papel de presente cuchê azul
fechei os olhos ao segurá-lo novamente
umedeci os olhos cerrados ao folhea-lo
na folha de rosto, dobrada tal triângulo
gravados à caneta, meu nome e o título
por Luiza, mãe, e a primeira professora
nas outras, frutinhas coladas nos cantos
recortadas carinhosamente por meu pai
com a sua tesourinha mágica de bigode
de papéis de bala que eu juntava na rua
mágico era também aquele seu canivete
das pontas esculpidas nos lápis cotocos
que meus dedos magrelos empunhavam
pra registrar palavras, novas ou sabidas
abrandando essa sede que de lá já trago