Crepúsculo de ti

Gustavo Cunha

O silêncio transborda de luz o interior vazio da sala.
 
Do sofá onde me sento, vejo-te a vagar através dos cômodos da casa como outrora fazias -
 
E é como se quase pudesse tocar-te.
 
Talvez estejas ausente por um instante apenas;
 
Brincando de fabricar sonhos inalcançáveis noutro lugar...
 
Da porta do quarto o vazio é intransponível e não atrevo-me a adentrá-lo:
 
O teu espectro, oscilante e desvanecente,
 
Tortura-me como aquela presença ubíqua que somente os seres imperecíveis possuem.
 
Debalde tento desvencilhar-me de ti, é inútil...
 
Fundir-me-ei com o silêncio.
 
Tornar-me-ei uma quimera de mim mesmo.
 
Serei espaço e tempo.
 
E, ao término inevitável de tudo,
 
Serás apenas saudade extinguindo-se a sí  mesma como o crepúsculo que,
 
Reverenciando o fulgor do dia,
 
Prenuncia o seu próprio fim.
  • Autor: Gustavo Cunha (Offline Offline)
  • Publicado: 17 de novembro de 2022 00:02
  • Categoria: Amor
  • Visualizações: 9
Comentários +

Comentários1

  • Lisemarie

    Boa tarde!
    Quando o amor é intenso, a sua "ausência" se faz "presença" num sentir inteiro, em plenitude da alma desejosa de tê-lo novamente. Seus versos surpreendem na grandiosidade do sentimento. Lindo Poema! Bravo!
    Saudações!

    • Gustavo Cunha

      Muito agradecido, Lise!



    Para poder comentar e avaliar este poema, deve estar registrado. Registrar aqui ou se você já está registrado, login aqui.