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Gustavo Cunha

Crepúsculo de ti

O silêncio transborda de luz o interior vazio da sala.
 
Do sofá onde me sento, vejo-te a vagar através dos cômodos da casa como outrora fazias -
 
E é como se quase pudesse tocar-te.
 
Talvez estejas ausente por um instante apenas;
 
Brincando de fabricar sonhos inalcançáveis noutro lugar...
 
Da porta do quarto o vazio é intransponível e não atrevo-me a adentrá-lo:
 
O teu espectro, oscilante e desvanecente,
 
Tortura-me como aquela presença ubíqua que somente os seres imperecíveis possuem.
 
Debalde tento desvencilhar-me de ti, é inútil...
 
Fundir-me-ei com o silêncio.
 
Tornar-me-ei uma quimera de mim mesmo.
 
Serei espaço e tempo.
 
E, ao término inevitável de tudo,
 
Serás apenas saudade extinguindo-se a sí  mesma como o crepúsculo que,
 
Reverenciando o fulgor do dia,
 
Prenuncia o seu próprio fim.