Roberio Motta

Balaio da Vida

Balaio da Vida

E tu com teu corpo cansado

Chacoalhado de solidão

Indo embora com teu longe

Soprado por fina frestra da entreluz

Alumiada de ser-tão.

 

E o que restou foi o vazio

Feito pote emborcado

Rodilha encardida

Amparada no fogão

E a piaçava encostada

Via tudo ao inverso

O verso ao averso

O sol da carne ao leite

O bule e o matulão.

 

Enquanto me ia espremido

Deixando por lá um pouco deu

Tu inda abraçada em mim

Não mais por teus braços amassados

Mas, por teu impregnado perfume

Sorvendo inda a jasmim

 

Na escora cansada da espera

A porta, o tapete e a janela

O saleiro encostado a panela

A salgar lágrimas do adeus

 

E o pisar querendo olhar para trás

Me traz um pouco do que já fui

Mesmo enquanto indo sem ir

Com os pés acorrentados com o que se foi.

 

E o tempo rodeando o lamento

Via a cama coberta de ausência

Os sapatos sem a valsa da tua presença

O acorde dos pássaros sem a toada

E teu corpo suado com a toalha

Melancólica sombra da sobra mantença.

 

Banzo banco do balaio da vida

Senta a Saudade e a precondia

Irmãs caladas sentadas

Vendo o vento do tempo dia a dia

O sol, a peneira e o varal

A terra seca até mesmo do teu pranto

E a avistar de longe seu encanto

Guardei pronto e engomado

No mesmo canto o teu canto e o manto.

 

Roberio Motta

Juazeiro do Norte, Estado de Graça do Cariri

12+ 1 de 9’vembro de Vinte e Vinte e Dois.

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