Balaio da Vida
E tu com teu corpo cansado
Chacoalhado de solidão
Indo embora com teu longe
Soprado por fina frestra da entreluz
Alumiada de ser-tão.
E o que restou foi o vazio
Feito pote emborcado
Rodilha encardida
Amparada no fogão
E a piaçava encostada
Via tudo ao inverso
O verso ao averso
O sol da carne ao leite
O bule e o matulão.
Enquanto me ia espremido
Deixando por lá um pouco deu
Tu inda abraçada em mim
Não mais por teus braços amassados
Mas, por teu impregnado perfume
Sorvendo inda a jasmim
Na escora cansada da espera
A porta, o tapete e a janela
O saleiro encostado a panela
A salgar lágrimas do adeus
E o pisar querendo olhar para trás
Me traz um pouco do que já fui
Mesmo enquanto indo sem ir
Com os pés acorrentados com o que se foi.
E o tempo rodeando o lamento
Via a cama coberta de ausência
Os sapatos sem a valsa da tua presença
O acorde dos pássaros sem a toada
E teu corpo suado com a toalha
Melancólica sombra da sobra mantença.
Banzo banco do balaio da vida
Senta a Saudade e a precondia
Irmãs caladas sentadas
Vendo o vento do tempo dia a dia
O sol, a peneira e o varal
A terra seca até mesmo do teu pranto
E a avistar de longe seu encanto
Guardei pronto e engomado
No mesmo canto o teu canto e o manto.
Roberio Motta
Juazeiro do Norte, Estado de Graça do Cariri
12+ 1 de 9’vembro de Vinte e Vinte e Dois.