Abel Ribeiro

Mais um na multidão


Aviso de ausência de Abel Ribeiro
NO

Às vezes no barulho do dia

Na correria da perna cansada

Encontro-me numa esquina vadia

Olhando o céu cinzento na calçada

Vozes e vendas, o som anuncia

Um garçom servindo aquela pescada.

 

Na poesia dos corpos em movimento

Sento e aperto o pause

Na velocidade dos automóveis

De tudo cego que me cause

Aprendo com o filme da lembrança

E recordo-me do meu tempo de criança.

 

Depois retomo a caminhada

E me ponho a pensar em nada

No vazio daquela calçada

Converso com a cena nublada

Olho o culto na igreja e o homem de terno na porta

Meu córneo entorta e sigo minha rota.

 

No outdoor à frente a propaganda apela

Ninguém me vê, na banca leio a revista

Mal vista aquela mateira do jornal

Nas fotos o político, a bunda e a capital

Anúncios, celulares nas mãos

Fones e I fones, o fútil e o banal.

 

Passa o carro da ambulância

O som berrante pedindo passagem

Como a guitarra de Gary Moore

A cidade abre a bagagem

Sonhos mortos, rostos doentes

Casas vivas, casas sem gente.

 

Não há lugar no mundo sem ela

Um amontoado de gente

Presente, passageiro rotineiro

Ônibus e linhas com ambulantes falantes

Da insuficiente rua que corta a avenida

Meus ouvidos seguem dormente.

 

Vou me embora para casa

Assovio a canção da aurora

Vem na minha frente um velho careca

E uma adolescente uniformizada

Ele muito cansado

Ela super suada

Porém a distância do tempo

Aumenta o vento e a chuva rápida

Molha tudo, para o movimento

Embaixo daquela marquise quebrada.

Abel

 

  • Autor: Abel (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 27 de Outubro de 2022 15:45
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 4


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