Às vezes no barulho do dia
Na correria da perna cansada
Encontro-me numa esquina vadia
Olhando o céu cinzento na calçada
Vozes e vendas, o som anuncia
Um garçom servindo aquela pescada.
Na poesia dos corpos em movimento
Sento e aperto o pause
Na velocidade dos automóveis
De tudo cego que me cause
Aprendo com o filme da lembrança
E recordo-me do meu tempo de criança.
Depois retomo a caminhada
E me ponho a pensar em nada
No vazio daquela calçada
Converso com a cena nublada
Olho o culto na igreja e o homem de terno na porta
Meu córneo entorta e sigo minha rota.
No outdoor à frente a propaganda apela
Ninguém me vê, na banca leio a revista
Mal vista aquela mateira do jornal
Nas fotos o político, a bunda e a capital
Anúncios, celulares nas mãos
Fones e I fones, o fútil e o banal.
Passa o carro da ambulância
O som berrante pedindo passagem
Como a guitarra de Gary Moore
A cidade abre a bagagem
Sonhos mortos, rostos doentes
Casas vivas, casas sem gente.
Não há lugar no mundo sem ela
Um amontoado de gente
Presente, passageiro rotineiro
Ônibus e linhas com ambulantes falantes
Da insuficiente rua que corta a avenida
Meus ouvidos seguem dormente.
Vou me embora para casa
Assovio a canção da aurora
Vem na minha frente um velho careca
E uma adolescente uniformizada
Ele muito cansado
Ela super suada
Porém a distância do tempo
Aumenta o vento e a chuva rápida
Molha tudo, para o movimento
Embaixo daquela marquise quebrada.
Abel