Rafael Marinho

Uma viagem com tudo pago para a morte


Aviso de ausência de Rafael Marinho
NO

CAPÍTULO 1

 

Camille achava que o mundo era um grande arco-íris, mesmo depois de seu primo a convidar para uma viagem com tudo pago para a morte.

Toda essa confusão começou porque seu primo Douglas trabalhava na NASA. Na verdade, ele tinha poucas ambições na vida. Sua meta era apenas ser o maior astronauta de todos os tempos.

Só que a NASA não o via com grande potencial para isso. Tanto que mandou outro astronauta para ser o primeiro a pisar em Marte. Apesar disso, Douglas já estava superando esse trauma, mas aí veio outro.

Uma vez, quando Douglas levou Camille para dar um passeio na estação espacial e ela lhe fez um pedido:

"Primo, me leva pro espaço um dia?".

Primos normais: "Ficou doida? E onde já se viu espaço ser lugar de criança?"

Douglas: "É pra já. Faço qualquer coisa pra ver um sorriso no seu rosto."

 

CAPÍTULO 2

 

Ryan foi o primeiro homem a pisar em Marte, o que ele não queria era ser o primeiro a ser enterrado lá.

Só que parecia que era justamente isso que ia acontecer, pois a nave explodiu enquanto Ryan explorava o lugar.

Só deu tempo de enviar uma mensagem para NASA com um pedido de socorro:

"Por favor, venham me salvar, porque eu encontrei um artefato que vai mudar a história da humanidade".

 

CAPÍTULO 3

 

Em seguida, a NASA recebeu a mensagem de Ryan e decidiu mandar uma expedição para resgatá-lo.

Só que ninguém ia aceitar ir nessa missão tão perigosa. Já foi um sacrifício Ryan e a tripulação terem aceitado ir para Marte, quanto mais voltar lá.

Então ficou resolvido fazerem uma mentirinha do bem e dizer que os astronautas só iam dar um passeio pelo espaço.

Nem é preciso dizer que Douglas foi convocado para ir nessa expedição. E ele viu aí a oportunidade perfeita de incluir sua priminha. Como ele já tinha ido e voltado do espaço várias e várias vezes super de boa, não havia problema, não é?

E foi aí que deu tudo errado.

 

CAPÍTULO 4

 

Camille sempre foi muito de bem com a vida, mas sua visão de mundo também era contagiosa.

Seus pais tinham o mesmo otimismo agudo crônico e, por isso, sempre achavam que nada de mau ia acontecer com ninguém.

Sendo assim, depois do convite, Camille chegou pra mãe e disse: "Meu primo me chamou pra ir no espaço, posso ir?"

Mães normais: "Não, cê tá louca?"

Mãe da Camille: "Claro, vai com Deus. E aproveita me traz uma lembrancinha"

 

CAPÍTULO 5

 

Em Marte não tem muitas coisas pra fazer, por isso Ryan ficou entediado enquanto esperava o resgate chegar.

Ele só sabia olhar aquele artefato de cima a baixo.

Foi assim que Ryan percebeu que havia um aviso nele: "Não abra!".

Astronautas normais: "Que pena, não posso abrir."

Ryan: "Opa, vou liberar um alien gigante que vai tentar engolir o sol."

E foi assim que um e.t. gigante começou a persegui-lo e a missão que já não ia ser fácil entrou no nível hardcore.

 

CAPÍTULO 6

 

No dia da partida, Douglas vestiu seu traje de astronauta e, sem ninguém saber, deu um jeito de esconder Camille na nave para um passeio inesquecível.

Para que ninguém desconfiasse de nada, Douglas a deixou num cômodo aconchegante chamado lixo. Mas, para Camille, estar ali era como estar num parque de diversões. Tudo porque naquele lugar tinha uma janela e ela ia poder ver todo o espaço sideral.

E assim a nave partiu, mas cinco minutos depois quem desejou partir foi Douglas.

Nessa hora, o comandante reuniu os astronautas e falou o verdadeiro objetivo da missão: ir para Marte e resgatar o astronauta Ryan e o artefato que ele encontrou.

Douglas gelou quando ouviu isso, porque a missão não ia ser simples coisissima nenhuma e ele tinha botado sua priminha em risco de morte.

 

CAPÍTULO 7

 

Douglas estava se sentindo mais culpado do que quem solta pum no elevador. Por isso, foi até o lixo encontrar sua priminha pra ver se estava tudo bem e lhe pedir desculpas.

"E aí, tá gostando do passeio?", começou ele.

"Tô amando, primo, o espaço é tão lindo! Vamos tirar uma selfie?".

"Que bom que você gosta do espaço", pensou Douglas, "porque vamos ser enterrados nele".

Mas, vendo o otimismo de Camille, Douglas não teve coragem de estragar o passeio dela, lhe contando a verdade.

"Até porque", ele tentou se animar, "talvez as coisas deem certo no final".

Mas Douglas só conseguiu se manter animado antes dos astronautas colocarem o primeiro pé em Marte.

Assim que chegaram no planeta vermelho, a primeira cena que viram foi Ryan correndo com um artefato na mão e uma montanha atrás dele.

"Ué, porque tem uma montanha ali?", se perguntaram.

Depois que perceberam que não era montanha. Era um alien gigante perseguindo o astronauta. Aquele e.t. parecia uma amoeba de 10 metros de altura.

Então, os astronautas começaram a correr também de volta para a nave.

Começou uma grande perseguição, e, por um triz, Ryan e os outros conseguiram escapulir para dentro da nave.

"Graças a Deus", pensou Ryan, assim que as portas se fecharam, "Mais um pouco e eu ia morrer".

Mas o sossego dele só durou dois segundos, pois o comandante logo apareceu e o botou contra a parede.

"O que está acontecendo, Ryan?"

"Não dá tempo de explicar, a gente precisa fugir agora!"

Então, naquela hora, o piloto recebeu uma ordem, deu uma guinada na nave e começaram a fugir do alien em alta velocidade.

 

CAPÍTULO 8

 

Algumas horas de perseguição em pleno espaço e contaram para Douglas que a missão em Marte tinha dado certo, tirando a parte da amoeba gigante.

Então, sabendo que a morte era certa, Douglas resolveu passar seus últimos suspiros conversando com sua priminha Camille.

Foi aí que a menina percebeu vários passos e gritos do lado de fora do lixo e perguntou para o seu primo:

"Aconteceu alguma coisa, Douglas?"

"Não. De maneira nenhuma!", o astronauta começou a atropelar as palavras de tão nervoso, "Ninguém tá preocupado, ninguém vai morrer, ninguém tá sendo perseguido por aliens. Eles... Eles... Eles só tão brincando de pique pega. É isso."

"Legal, posso brincar também?", Camille se empolgou.

"Vamos sim!", Douglas concordou. "É pra já!"

Ele só esqueceu de mencionar que perder o jogo significava perder a vida, mas ok, próximo capítulo.

 

CAPÍTULO 9

 

Enquanto a nave corria a todo vapor para longe do monstro, Ryan estava passeando pelos corredores carregando a caixa vazia de onde o alien surgiu.

Todos os cientistas já tinham dado uma olhada nela para ver se encontraram alguma pista de como derrotar o alien, mas nada.

Só que tudo mudou quando Ryan entrou na porta errada e se deparou com uma criança de 11 anos.

"Desculpa, me enganei".

Daí ele reparou que aquela fedelha não devia estar ali.

"Ei, posso saber o que a mocinha está fazendo?", perguntou com a mão na cintura.

Camille respondeu: "Eu conto, mas só se você me disser o que é isso na sua mão".

"Isso? É uma caixa mágica", disse Ryan.

"Oba, deixa eu brincar com ela?"

"Não posso, tenho que levá-la para um lugar seguro."

Mas foi no meio da conversa que Ryan escutou passos se aproximando. Era Douglas trazendo a comida de Camille.

"Cheguei, priminha. Trouxe a gororoba que você pediu.".

Foi assim que Ryan pegou eles no flagra.

"Ei, o que tá acontecendo aqui?", apontou Ryan, "Vou agora mesmo contar pro comandante que você trouxe uma criança escondido pra nave."

E, enquanto Ryan ia em direção à saída, Douglas tremeu dos pés à cabeça.

 

CAPÍTULO 10

 

Por um momento, Douglas pensou que tudo estava perdido e que ia ser expulso da nave em pleno voo, mas logo teve uma ideia e pegou Ryan pelo braço.

"Ah, tudo bem, pode ir lá contar pro comandante", Douglas disse, "E eu aproveito e conto que foi você que liberou o alien pra perseguir a gente".

Foi aí que Ryan foi atingido no ponto fraco.

"E como você sabe que fui eu?".

"Arrá", Douglas lhe apontou o dedão, "eu não sabia, mas você acabou de confessar!"

"Droga, eu e minha boca grande", Ryan lamentou, "então vamos fazer o seguinte: você não conta o meu segredo e eu não conto o seu."

"Fechado", e eles apertaram a mão.

Mas eles não tinham percebido que, enquanto conversavam, Camille estava brincando com a caixa de onde saiu o monstro.

Só se deram conta quando ela disse:

"Ué, por que tem um papelzinho aqui dentro?"

E então a ficha caiu. Todos estavam tentando achar uma estratégia de conter o monstro, mas foi Camille que achou dentro do artefato as instruções que iam salvar a vida de todos.

"Se você está lendo isso é porque abriu o negócio que eu disse para não abrir, seu idiota!", dizia o aviso dentro da caixa, "Fui eu que prendi o alien aqui e agora para aprisioná-lo de novo, você deve atraí-lo para o sol senão todo mundo vai morrer".

Os olhos de Douglas e Ryan brilharam.

"Camille, você é uma gênia!", exclamaram.

 

 

CAPÍTULO 11

 

Nos minutos seguintes, Douglas e Ryan correram para a sala vip e contaram ao comandante qual era único jeito de derrotar o alien: levá-lo ao sol.

Comandantes normais: "Que ideia absurda, vou continuar tentando atirar jujuba nele".

Comandante daquela nave: "Ótimo, vamos lá. O máximo que pode acontecer é a gente morrer queimado em vez de devorado por um alien".

Com isso em mente, o comandante sorriu e virou a nave e até onde era possível se aproximar do astro-rei.

Na manobra, o monstro passou de raspão pela nave. Todos pensaram que ele iria comê-la. Mas bastou o alien sentir o cheirinho do sol que foi correndo em direção a ele.

Os astronautas só conseguiram ver de longe o que houve em seguida.

O alien pôs um pitadinha de sal e tentou comer o sol como janta naquele dia.

Mas não deu certo.

Derreteu, derreteu, derreteu até morrer.

Assim, toda a tripulação foi salva.

E, graças à Camille, todos puderam voltar para a Terra sãos e salvos.

 

CAPÍTULO 12 - FINAL


Por fim, quando chegaram na Terra, Douglas achou que estava tudo bem. Mas foi só passar um dia com Ryan que viu que ia demorar um tempo até o colega se recuperar do trauma.

Ele não podia ver uma caixa que começava a gritar de medo. Ele quis ajudar Douglas a levar Camille até a casa de sua mãe, mas surtou a cada caixa de fruta, de bombom, de presente.

Chegando lá, a mãe de Camille perguntou: "E aí, como foi de viagem?"

"Ah, foi maravilhosa.", respondeu Camille vomitando arco-íris, "Eu fiquei num quarto que parecia um parque de diversões. A vista era linda, vi cada estrela impressionante... Também descobri que os astronautas são pessoinhas muito divertidas. Meu sonho é ser uma quando crescer. O trabalho deles é só brincar de pique pega e mexer em caixas mágicas."

Douglas e Ryan não concordavam com isso, mas não queriam cortar o barato de Camille.

Douglas: "Ser astronauta é a maior loucura. Primeiro eu pensei que estava tudo bem, depois que íamos morrer. Em seguida, pensei que estava tudo sob controle, depois que a morte era certa. E então a Camille salvou todo mundo. Ufa."

Ryan: "Bom, a melhor parte da viagem foi o fim dela. Mas eu não quero me deparar com uma caixa tão cedo".

Foi aí que a mãe da Camille resolveu dar uma recompensa a Ryan e Douglas por terem cuidado bem da filha durante a viagem. E lá veio ela com uma caixa na mão cheia de presentes.

"Um caixa?", Douglas reagiu, "Ah, meu Deus, o alien vai me pegar, socorro, ele vai me pegar!" Então, ele teve um piripaque e desmaiou.

No fim, Douglas, Camille e a mãe deixaram Ryan no sofá tendo altos pesadelos com o e.t. e foram comemorar o fato de que sobreviveram a uma viagem com tudo pago para a morte.

Então, todos foram felizes para sempre até que tudo deu errado outra vez.

 

 

  • Autor: Rafael Marinho (Offline Offline)
  • Publicado: 11 de Junho de 2020 17:44
  • Comentário do autor sobre o poema: Esse conto foi baseado num crossover das redações de 3 alunos do sexto ano do ensino fundamental a quem tenho o privilégio de dar aula. Eles dão nome aos 3 personagens desta história.
  • Categoria: Fantástico
  • Visualizações: 31
  • Usuário favorito deste poema: ELAA.

Comentários2

  • Cecilia

    Gostei. História bem contada.

    • Rafael Marinho

      Obrigado! Essa história é muito especial para mim, apesar de ser um conto grande, porque foi composto durante uma aula de Redação com as crianças do 6º ano na escola em que trabalho! Eu notei que quando pedi para fazerem um conto fantástico, muitas delas fizeram histórias que se passavam no espaço. Então misturei as histórias e criei essa. Pretendo mostrar para elas como ficou o conto misturado.

    • ELAA

      Gostei bastante,principalmente das partes cômicas da trama, e de como esse conto faz você querer saber imediatamente o que vai acontecer, por que o titulo faz com que crie essa ideia na mente,de que eles vão morrer.Enfim ótimo!.

      • Rafael Marinho

        Muito obrigado por ter lido (confesso que me empolguei, o texto é meio grande) e obrigado pelo comentário! Esse conto foi baseado numa aula de Redação e tem uma dose alta de imaginação de criança. A atividade das crianças era criar uma história fantástica e eu ri à beça ao ler as redações delas. Com isso em mente, eu tive a ideia de misturar as redações, fazer um conto só e dar às crianças como uma lembrança.



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