Eram globos verdes e úmidos que flutuavam na sala do Teatro Elísios
Dessa noção concisa de Cortázar, nasceu o artigo Valise de Cronópio
Que aponta a dualidade poética como mistério, lei ou código próprio
Magia e poesia são dois planos, duas finalidades, uma direção idêntica
Relação de conexão do homem com o mundo, heterogêneo pela ciência
A poesia surge num terreno comum, à linguagem íntegra é metafórica
“Que esquisito, as árvores se agasalham no verão”, é versão analógica
Aos poucos superada pela versão racional do mundo, da consciência.
O poeta é aplicável no subjetivo da imagem que o poema aparece
Nesse sentido a imagem é sempre um produto psicológico poético
Aparece como certo instrumento que se julga eficaz e arquitético
O poeta encara analogia como uma força convertida na vontade
Ele declama a vida feliz, mas também a julga dolorosa de verdade
Sente prazer em enunciar a imagem daquilo que se está pensando
Sente que “a vida é uma cebola, que é preciso descascar chorando”
Vive a poesia e a compartilha construído a imagem na afetividade
A poesia é interlúdio mágico e a metáfora é a magia de identidade
A concepção poética da realidade se coincide com a noção mágica
A velha aproximação entre o poeta e o primitivo até parece trágica
Se não fosse por razões profundas de fora do sistema petrificante
O poeta prefere sentir e julgar para entrar nas coisas um instante
Magia do primitivo e poesia do poeta erigida em método analógico
Intuindo a eficácia da palavra e o valor dos produtos metafóricos
O primitivo e o poeta sabem que manifestação verbal é importante
Conhecer-se e objetivar-se pode lançar para fora de si o estranho
A essência da participação consiste em apagar a dualidade poética
O sujeito é ao mesmo tempo ele mesmo e o ser de ação da dialética
Poeta é àquele que pode separar as ideias e as imagens dos objetos
Como sentido encantatório dos elementos propriamente imagéticos
O poeta não é um primitivo, mas é àquele homem que os reconhece
Que aceita a direção analógica nascendo à imagem o poema aparece
Aparece como um certo instrumento que se julga eficaz e arquitético
O poeta consegue expressar com a imagens a transposição poética
Da sua angustia pessoal de alheamento faz-se ícone por excelência
Por que o poeta anseia ser outra coisa, ser outra nova experiência
Como um fazedor de intercâmbios ontológicos a mágica de verdade
O versejador vê a essência diferente no princípio de sua identidade
O lirista herda dos seus remotos ascendentes uma ânsia de domínio
Em todo o objeto do qual o mago busca apropriar-se do seu fascínio
O poeta parece um acervo da imagem saindo de si com sua ansiedade
- Autor: Arlindo Nogueira (Pseudónimo ( Offline)
- Publicado: 6 de outubro de 2022 01:29
- Comentário do autor sobre o poema: Escrevi a Poesia “Subjetivo da Imagem Poética”, para refletir sob a definição da imagem, como sendo toda forma verbal, frase ou conjunto de frases, que o poeta diz e que, unidas, compõem um poema. A inspiração veio da leitura de Valise de Cronópio, de CORTÁZAR, Júlio. Um escritor pouco conhecido no Brasil, mas foi um grande intelectual do século XXI, excelente contista conhecido por esse tipo de literatura, publicou inúmeros contos que retratam seu estilo e percepção do mundo. Cortázar define o conto como sendo um caracol da linguagem, um irmão misterioso da poesia, uma síntese da vida, pois ele se move nesse plano do homem onde a vida e sua expressão escrita. Cortázar relata que o gênero transmite imagens nas quais uma certa alquimia secreta explica a profunda ressonância que o conto tem em nós. Em nossa poesia falamos do subjetivo, porque é tudo aquilo que é próprio do sujeito ou a ele relativo. Por conseguinte, nos dois últimos versos da última estrofe, há a centralidade do nosso poema. “Em todo o objeto do qual o mago busca apropriar-se do seu fascínio” –“O poeta parece um acervo da imagem saindo de si com sua ansiedade”. Boa leitura a todos.
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