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Arlindo Nogueira

SUBJETIVO DA IMAGEM POÉTICA

Eram globos verdes e úmidos que flutuavam na sala do Teatro Elísios

Dessa noção concisa de Cortázar, nasceu o artigo Valise de Cronópio

Que aponta a dualidade poética como mistério, lei ou código próprio

Magia e poesia são dois planos, duas finalidades, uma direção idêntica

Relação de conexão do homem com o mundo, heterogêneo pela ciência

A poesia surge num terreno comum, à linguagem íntegra é metafórica

“Que esquisito, as árvores se agasalham no verão”, é versão analógica

Aos poucos superada pela versão racional do mundo, da consciência.

 

O poeta é aplicável no subjetivo da imagem que o poema aparece

Nesse sentido a imagem é sempre um produto psicológico poético

Aparece como certo instrumento que se julga eficaz e arquitético

O poeta encara analogia como uma força convertida na vontade

Ele declama a vida feliz, mas também a julga dolorosa de verdade

Sente prazer em enunciar a imagem daquilo que se está pensando

Sente que “a vida é uma cebola, que é preciso descascar chorando”

Vive a poesia e a compartilha construído a imagem na afetividade

 

A poesia é interlúdio mágico e a metáfora é a magia de identidade

A concepção poética da realidade se coincide com a noção mágica

A velha aproximação entre o poeta e o primitivo até parece trágica

Se não fosse por razões profundas de fora do sistema petrificante

O poeta prefere sentir e julgar para entrar nas coisas um instante

Magia do primitivo e poesia do poeta erigida em método analógico

Intuindo a eficácia da palavra e o valor dos produtos metafóricos

O primitivo e o poeta sabem que manifestação verbal é importante

 

Conhecer-se e objetivar-se pode lançar para fora de si o estranho

A essência da participação consiste em apagar a dualidade poética

O sujeito é ao mesmo tempo ele mesmo e o ser de ação da dialética

Poeta é àquele que pode separar as ideias e as imagens dos objetos

Como sentido encantatório dos elementos propriamente imagéticos

O poeta não é um primitivo, mas é àquele homem que os reconhece

Que aceita a direção analógica nascendo à imagem o poema aparece

Aparece como um certo instrumento que se julga eficaz e arquitético

 

O poeta consegue expressar com a imagens a transposição poética

Da sua angustia pessoal de alheamento faz-se ícone por excelência

Por que o poeta anseia ser outra coisa, ser outra nova experiência

Como um fazedor de intercâmbios ontológicos a mágica de verdade

O versejador vê a essência diferente no princípio de sua identidade

O lirista herda dos seus remotos ascendentes uma ânsia de domínio

Em todo o objeto do qual o mago busca apropriar-se do seu fascínio

O poeta parece um acervo da imagem saindo de si com sua ansiedade