Quem vai queimar?

Ashira Saiko

 


Ao longo da história a demonizar
Na fogueira vivas a queimar
Afinal mortos não podem falar
E a justiça não podem reivindicar

Esse conceito milenar 
De que a morte pode justificar 
A monstruosidade acobertar
E a mulher deve se calar

Parasitas a se alimentar 
De vítimas humilhadas a se calar
Não estamos seguras na maca hospitalar
Na cama de casa ou no caixão a selar 

Bebês no berço a sangrar 
Depois de seu pai os Violar 
Nem as de cinco anos vão escapar 
E a de dez a engravidar

A garota da faculdade a voltar
No meio do mato a gritar
Com um desconhecido a rasgar
Sua pele até seu útero desintegrar 

A grávida dando a luz a sedar
Sua vulnerabilidade aproveitar
Na frente dos colegas a esfregar
Seu órgão na boca dela enfiar

No necrotério a esfriar  
Sua alma já não está 
Em baixo de um tarado a se esfregar 
Seu rígido corpo degradar 

Vermes a se arrastar
Nas entranhas de um país rudimentar 
Onde os princípio são as minorias atacar
Mas a violência horrenda acobertar 

O homem preso por abusar
Muitos seguidores a ganhar
O presidente a imitar
Tiros e a violência aclamar

Nos sites imorais a pesquisar 
Estupro, pedofilia, necrofilia a Ganhar
O ranking das pesquisas liderar
Milhões de acessos a faturar

O feminismo invalidar
Pois é mais fácil justificar 
Que as mulheres estão a odiar
Do que a violência explicar 

Somos condicionados a acreditar 
Que as feministas e os lgbts estão a infiltrar 
A tradicional família brasileira deturpar 
Para que os estupros venham a se disfarçar

Ouça as vozes a gritar 
Almas destruídas a clamar
Por entre as chamas dissipar 
O Eco da consciência que não se pode aguentar 

Enquanto fingimos não enxergar 
Eles fingem não praticar 
Outros fingem não assistir e desejar 
E a violência vai aumentar até a sua porta arrombar

Indicação de música:
Leitura: Doce Veneno - Marina Luz, Misael. 
Reflexão: Quem vai queimar - Pitty. 

  • Autor: Ashira Saiko (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 12 de julho de 2022 14:00
  • Categoria: Reflexão
  • Visualizações: 18


Para poder comentar e avaliar este poema, deve estar registrado. Registrar aqui ou se você já está registrado, login aqui.