Hoje eu me perdi nas esquinas do tempo, fiquei sem rumo, sem direção, entrei na contramão e viajei ao passado, reencontrei um jovem apaixonado, que viajava nas canções que ouvia, atravessava mundos que não conhecia e em acordes de dor ou alegria dançava escondido no quarto.

Hoje eu me perdi nas esquinas do tempo, fiquei sem rumo, sem direção, entrei na contramão e deixei aflorar a emoção. Lembrei de um tempo em que a solidão maltratava, e a noite o que restava eram às lágrimas de dor, um desamor, paixão mal resolvida, um tempo que a vida era apenas sobreviver.

Hoje eu me perdi nas esquinas do tempo, junto com o inverno e a serração, em meu peito o pulsar do meu coração soa inconstante, ele bate, ele para num instante e mantém o silêncio. O silêncio que agride, às lágrimas da noite, a dor e o açoite que acompanham o inverno.

Hoje eu me perdi nas esquinas do tempo, perdi minha identidade, um pouco da verdade que escondia em textos e poesias, para alguns parecia arte, para outros, literatura, mas eram apenas pedaços de mim perdidos na noite escura. Hoje eu me perdi nas esquinas do tempo, já não sei que horas são, se eu tenho pulsação ou sou apenas palavras perdidas num texto.

Porque hoje eu me perdi nas esquinas do tempo, sem sorrisos, sem aplausos ou abraços, pelo caminho o que encontro são traços, de uma poesia mal escrita, uma carta inacabada, um bilhete rasgado. E perdido nas esquinas do tempo eu já não tenho legado, deixo apenas umas dezenas de linhas e rabiscos que recordam o meu passado.

Hoje eu me perdi nas esquinas do tempo, já não sei se sou mar ou se sou vento, se insisto em amar ou adormeço ao relento, se tento me reencontrar ou deixo só no pensamento, as lembranças do amor e da flor, do teu sorriso e teu calor que um dia foram meu contentamento.

Jose Fernando Pinto