a minha memória

Julia Vasconcelos

algum dia, não quero ser lembrada só como uma pessoa que sofreu

não quero que apenas lembrem das dores e das fragilidades

das peças que a vida me pregou

das mortes que eu tive antes da última

das lacerações

na alma e no meu corpo

dos abusos

de algum modo acho importante lembrar

e reforçar o ódio e repúdio a esse sistema de atrocidades

mas se possível, gostaria de algo a mais

a lembrança da minha doçura

que não se amargava facilmente 

dos meus sorrisos

fáceis e sinceros 

da sensibilidade

ao toque e a todo resto 

da meu senso de justiça incansável

da garra colocada em luta

da minha paciência comigo e com os outros, que foi fruto de muita resistência a um ciclo feroz de impaciência

que lembrem dos olhos que brilhavam com crianças, animais, com elogios e com o pôr do sol

que lembrem de que em vários momentos desatentos tentei esquecer, apagar

ou que tentaram

não esqueçam do meu amor

revolucionário, fiel e singelo

modesto e sincero amor.

  • Autor: Julia Vasconcelos (Offline Offline)
  • Publicado: 3 de junho de 2022 01:59
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 21
Comentários +

Comentários2

  • Pedro Garrão

    Bravo. Adorei essa parte "da minha doçura que não se amargava facilmente".

    • Drica

      Realmente essa parte é muito transparente. Lindo poema!

    • Pedro Garrão

      Bravo. Adorei essa parte "da minha doçura que não se amargava facilmente".



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