algum dia, não quero ser lembrada só como uma pessoa que sofre, ou que sofreu.
não quero que apenas lembrem da depressão, da minha fragilidade
das peças que a vida me pregou
das mortes que eu tive antes da última
dos cigarros, dos remédios e da bebida
dos choros constantes
do meu isolamento
das lacerações
na alma e no meu corpo
dos abusos
acho importante lembrar
e reforçar o ódio e repúdio a esse sistema de atrocidades
mas gostaria que se possível, lembrassem de algo a mais
da minha doçura
que não se amargava facilmente assim
dos meus sorrisos
fáceis e sinceros
da sensibilidade ao sentir
ao toque e a todo resto
da meu senso de justiça incansável
da garra colocada em luta
da minha paciência comigo e com os outros, que foi fruto de muita resistência a um ciclo feroz de impanciências
que assim como raízes, eram profundas e estiveram desde o início.
que lembrem dos olhos que brilhavam com crianças, animais, com elogios e com o pôr do sol
que lembrem de que em vários momentos desatentos tentei esquecer, apagar
ou que tentaram
não esqueçam do meu amor
revolucionário, fiel e singelo
modesto e sincero amor.