Carlos Lucena

O GRITO QUE NÃO CALOU

Sangue Preto 

De negra alma?

Ainda presa a grilhões

Por que Senhor

Por que ainda esse peso

Por que ainda essa dor?

 

Ja não basta 

A dor da velha Matriarca

Ja não basta o vento

Que soprou da África?

Não foram suficientes

Os antigos porões?

Por que ainda

Algozes

Ferozes

Que não mais

Do punho o chicote

No lombo resvala

Porém brutal e atroz

Hoje a mesma dor se iguala?

Não mais em navio negreiro

Nem tampouco a nau errante

Está em pleno mar

Mas continua nas vagas

Que sopra de par em par

O mesmo vento de antes

E nas mesmas ondas antigas

O mesmo martírio

Castigas?

Por que Senhor?

Por que Senhor

A Áurea não calou

As correntes que ainda predem

A dor que na cor ficou?

Por que, Senhor Deus dos desgraçados

Ainda na ignomínia infame

Ecoa  gritos desesperados

E não há prece que reclame

Senhor Deus dos mutilados?

Por que Senhor?

Ainda escorre  nas vagas

Do mar outrora navegado

O sangue de inocentes

Impiedosamente derramado?

Por que Senhor

Do poeta o clamor  não ouviram?

Seu grito Inda Hoje ecoa

E debalde no infinito

Ignorado ressoa:

- "... Onde estás, Senhor Deus 

Que não respondes

Em que mundo, em que estrela Tu te escondes"...?

  • Autor: Carlos (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 4 de Junho de 2020 07:04
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 48
  • Usuário favorito deste poema: Carlos Lucena.

Comentários2

  • Hébron

    Poema forte! Transmite a importante mensagem com uma beleza e harmonia admiráveis!

    • Carlos Lucena

      É isso, poeta! A poesia não deve ser uma inspiração ou construção superficial, precisamos buscar no âmago as dores da realidade, não deve ser apenas o que se sente, mas também o que se vê e o que se vive. Obrigado pelo comentário, obrigado ainda porque gostou...abraços!

    • Maria Vanda Medeiros de Araujo

      O poeta expressa de forma bem precisa, a pergunta que sempre se faz, quando se sente a injustiça, não porque não saibamos a resposta, mas para definir a crença de um Deus soberano, e que acreditamos que Ele tenha o poder deagir. você escreve muito bem!

      • Carlos Lucena

        Vc também escreve muito bem, Vanda.
        Eu conheço muito bem sua habilidade com as letras e com as palavras. É uma pena que o gosto pela poesia é de poucos.
        Porém, viver já é poema escrito pela vida. E viva a poesia! E viva aos poetas!



      Para poder comentar e avaliar este poema, deve estar registrado. Registrar aqui ou se você já está registrado, login aqui.