Sangue Preto
De negra alma?
Ainda presa a grilhões
Por que Senhor
Por que ainda esse peso
Por que ainda essa dor?
Ja não basta
A dor da velha Matriarca
Ja não basta o vento
Que soprou da África?
Não foram suficientes
Os antigos porões?
Por que ainda
Algozes
Ferozes
Que não mais
Do punho o chicote
No lombo resvala
Porém brutal e atroz
Hoje a mesma dor se iguala?
Não mais em navio negreiro
Nem tampouco a nau errante
Está em pleno mar
Mas continua nas vagas
Que sopra de par em par
O mesmo vento de antes
E nas mesmas ondas antigas
O mesmo martírio
Castigas?
Por que Senhor?
Por que Senhor
A Áurea não calou
As correntes que ainda predem
A dor que na cor ficou?
Por que, Senhor Deus dos desgraçados
Ainda na ignomínia infame
Ecoa gritos desesperados
E não há prece que reclame
Senhor Deus dos mutilados?
Por que Senhor?
Ainda escorre nas vagas
Do mar outrora navegado
O sangue de inocentes
Impiedosamente derramado?
Por que Senhor
Do poeta o clamor não ouviram?
Seu grito Inda Hoje ecoa
E debalde no infinito
Ignorado ressoa:
- \"... Onde estás, Senhor Deus
Que não respondes
Em que mundo, em que estrela Tu te escondes\"...?