Carlos Lucena

O GRITO QUE NÃO CALOU

Sangue Preto 

De negra alma?

Ainda presa a grilhões

Por que Senhor

Por que ainda esse peso

Por que ainda essa dor?

 

Ja não basta 

A dor da velha Matriarca

Ja não basta o vento

Que soprou da África?

Não foram suficientes

Os antigos porões?

Por que ainda

Algozes

Ferozes

Que não mais

Do punho o chicote

No lombo resvala

Porém brutal e atroz

Hoje a mesma dor se iguala?

Não mais em navio negreiro

Nem tampouco a nau errante

Está em pleno mar

Mas continua nas vagas

Que sopra de par em par

O mesmo vento de antes

E nas mesmas ondas antigas

O mesmo martírio

Castigas?

Por que Senhor?

Por que Senhor

A Áurea não calou

As correntes que ainda predem

A dor que na cor ficou?

Por que, Senhor Deus dos desgraçados

Ainda na ignomínia infame

Ecoa  gritos desesperados

E não há prece que reclame

Senhor Deus dos mutilados?

Por que Senhor?

Ainda escorre  nas vagas

Do mar outrora navegado

O sangue de inocentes

Impiedosamente derramado?

Por que Senhor

Do poeta o clamor  não ouviram?

Seu grito Inda Hoje ecoa

E debalde no infinito

Ignorado ressoa:

- \"... Onde estás, Senhor Deus 

Que não respondes

Em que mundo, em que estrela Tu te escondes\"...?