Ora pro nobis

Maria Vanda Medeiros de Araujo


Aviso de ausência de Maria Vanda Medeiros de Araujo
NO

Ó virgem mãe

Desabrocha o galho da paz

Das sementes de capim 

Que cumpunham o teu rosário artesanal

E faz chegar-te as preces negras

Ao coração maternal.

 

Ó mãe de todas as cores

Da irmandade dos homens pretos

Que mesmo sem ter direitos

Fizeram à ti  confraria

 

Ó Mãe de todas as dores

Da mãe que lhe foi tirada

A filha que ali gerada

Geme gritos de agonia.

 

Senhora Mãe do Rosário

Quantas lágrimas foram postas aos seus pés

No silêncio negro da noite

Que eternamente escureceu.

Quantos prantos já lavaram as contas do rosário

Que a Gusmão prometeu.

 

Apressai a salvação ó rainha

Pois já não posso ver corrente

Nos rios que lavam as alvas almas

O escarlate tinto sangue dessa luta

Nada breve,

E de repente, eterna luta.

 

Ora pro nobis, Senhora do Rosário

Filhos dos morros, das vielas,

Sem berçário.

Herdeiros das senzalas do desamor

Presos na gaiola do olhar de quem só enxerga a cor.

Ora pro nobis.

 

Comentários +

Comentários4

  • Carlos Lucena

    Ah Vanda! Como falaste bem. Fizeste uma ligação perfeita de elementos espirituais com a realidade objetiva. Uma prece social com forte apelo/clamor espiritual.
    Parabéns! ORA PRO NOBIS descreve bem a realidade, sobretudo da América (Latina).

  • Maria Vanda Medeiros de Araujo

    Entendestes né?

    • Carlos Lucena

      Entendi sim. Porém, o mais interessante é que o tema pode ser trazido para a atualidade, a poesia tem essa possibilidade de atualizar contextos, tempos e momentos. O poeta fala de uma realidade, foca em um tempo político e histórico e, além do foco atinge outro!, Isto só o poeta e sua linguagem consegue realizar.

    • Maria Vanda Medeiros de Araujo

      Falo da protetora dos escravos, os quais eram proibidos de frequentar as igrejas pelos brancos. Por isso fazim os seus rosários de capim. Temos no pelourinho uma Igreja de N. Sra. do Rosário.

    • Roseli Furini

      Meu Deus, quanta beleza, e infelizmente quantas verdades, foram ditas em seu poema.
      amei!



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