Maria Vanda Medeiros de Araujo

Ora pro nobis

Ó virgem mãe

Desabrocha o galho da paz

Das sementes de capim 

Que cumpunham o teu rosário artesanal

E faz chegar-te as preces negras

Ao coração maternal.

 

Ó mãe de todas as cores

Da irmandade dos homens pretos

Que mesmo sem ter direitos

Fizeram à ti  confraria

 

Ó Mãe de todas as dores

Da mãe que lhe foi tirada

A filha que ali gerada

Geme gritos de agonia.

 

Senhora Mãe do Rosário

Quantas lágrimas foram postas aos seus pés

No silêncio negro da noite

Que eternamente escureceu.

Quantos prantos já lavaram as contas do rosário

Que a Gusmão prometeu.

 

Apressai a salvação ó rainha

Pois já não posso ver corrente

Nos rios que lavam as alvas almas

O escarlate tinto sangue dessa luta

Nada breve,

E de repente, eterna luta.

 

Ora pro nobis, Senhora do Rosário

Filhos dos morros, das vielas,

Sem berçário.

Herdeiros das senzalas do desamor

Presos na gaiola do olhar de quem só enxerga a cor.

Ora pro nobis.